Novo aeroporto sem custos para contribuintes "é uma aldrabice". Vinci quer "atrasar" terceira travessia do Tejo
Em declarações à TSF, Vasco Cardoso confessa acreditar que, se a ANA se tivesse mantido na propriedade do Estado, "o país teria conseguido os recursos necessários para poder ter construído, entretanto, o novo aeroporto"
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O PCP acusa o Governo de estar a "enganar o povo português" quando afirma que a criação do novo aeroporto de Lisboa não irá acarretar "custos para os contribuintes" e garante que a Vinci tem "todo o interesse em travar" a terceira travessia do Tejo.
Em declarações à TSF, a pretexto do livro lançado esta terça-feira intitulado 'Dossier Privatização da ANA - Assalto aos Aeroportos', Vasco Cardoso, membro da comissão política do comité central do PCP, assegura que o ministro das Infraestruturas está a "mentir" ao afirmar que a nova proposta da concessionária francesa não implica uma "fatura direta" ao Estado.
Em causa estão as afirmações de Miguel Pinto Luz, na Entrevista TSF/JN. Quando confrontado com o facto de a construção do novo aeroporto de Lisboa implicar a construção de uma nova ponte e, por consequência, uma estrutura rodoviária e ferroviária, o governante insistiu que "também aqui não é importável diretamente ao Estado" qualquer despesa, já que o Executivo pretende lançar concursos públicos.
Vasco Cardoso refuta agora estas declarações, assegurando que "isso é uma mentira e uma aldrabice". Rejeita, contudo, ficar "surpreendido" com esta realidade, sobretudo "vindo de quem vem".
"Quando o Governo diz que não há custos para os contribuintes, está a enganar o povo português, porque, na prática, o Estado deixa de ter as receitas que teria se fizesse a gestão dos aeroportos, transferindo essas receitas para a ANA", explica.
Indo mais longe, o comunista denuncia aquilo que considera ser uma "falcatrua" e sublinha que o país "construiu toda a sua rede aeroportuária sem privatizações".
"Toda a modernização dos aeroportos nacionais foram feitos, no fundamental, antes de a ANA ser privatizada. É o caso, por exemplo, do Aeroporto do Porto, que se transformou num dos principais aeroportos regionais da Europa. O aeroporto de Faro, os aeroportos nas regiões autónomas. Mesmos as modernizações, ao longo de 60 anos, o aeroporto de Lisboa vive sem privatização e a ANA dava lucro ao Estado português e, mais do que isso, permitia gerar a partir da sua própria atividade as receitas necessárias para o seu investimento", nota.
Vasco Cardoso confessa, por isso, acreditar que se a ANA se tivesse mantido na propriedade do Estado, "o país teria conseguido os recursos necessários para poder ter construído, entretanto, o novo aeroporto".
"O novo aeroporto não foi construído por causa da privatização", assevera.
Quanto à construção da terceira travessia do Tejo, entre Chelas (Lisboa) e o Barreiro (Setúbal) - prevista com a edificação do Aeroporto Luís Camões, no Campo de Tiro de Alcochete -, Vasco Cardoso salienta que a Vinci teria desde logo "todo o interesse em atrasar o máximo possível" a sua conclusão. E justifica esta crença.
A Lusoponte é atualmente detida pela Lineas e Vinci (com 50,5% e 49,5% do capital, respetivamente), cujas receitas têm "origem no tráfego das Travessias do Tejo". Ora, os comunistas apontam que a componente ferroviária desta travessia iria retirar "milhares de carros das portagens", algo que não seria inerentemente do interesse da concessionária francesa. Mas não fica por aqui.
"A Vinci tem não apenas a concessão dos aeroportos em Portugal, como também é um dos principais acionistas de referências da Lusoponte, que tem as conceções sobre o Rio Tejo e as concessões das duas pontes - Vasco da Gama e 25 de Abril - e esse contrato de concessão caduca em 2030. A Vinci está interessada, apesar de ter essas concessões, em que seja o Estado a assegurar a condução da futura terceira travessia, que é fundamental para a existência de um novo aeroporto", alerta.
Vasco Cardoso traduz esta crença para outras palavras e esclarece que a concessionária francesa quer "ficar apenas com a receita da concessão das pontes, mas não ter obrigação de suportar esse investimento".