Medo e angústia afetam comerciantes: um olhar pelas ruas do Porto após ataques a imigrantes
Numa manhã de muito movimento, as ruas do Porto pintam-se sobre um silêncio diferente.
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No Campo 24 de Agosto, uma zona tradicionalmente conhecida por ter vários imigrantes, durante a manhã desta segunda-feira, são poucos aqueles que andam nas ruas. Sentem-se as consequências dos ataques aos imigrantes, que aconteceram na passada sexta-feira. Um jovem trabalhador marroquino que não se quis identificar, conta à TSF que o medo está bem vivo.
"Infelizmente, não me sinto em segurança desde o dia em que percebi esta história. Estou aqui para trabalhar e não para fazer desacatos", sublinha.
Numa das ruas ali perto, a proprietária de um café diz que lida diariamente com emigrantes. Sem querer identificar-se, acredita que os ataques de sexta-feira foram um ajuste de contas.
"Não se chama racismo e sim autodefesa. É muito mau quando um cidadão português foi atacado no campo 24 de Agosto com um martelo e não se falou quase nada. Tentaram fazer justiça pelas próprias mãos, já que não se faz nada."
Emídio Oliveira, proprietário de outro café no Campo 24 de Agosto, que também lida com imigrantes diariamente, explica não é a favor da discriminação, mas que devido os assaltos é preciso intervir.
"Não sou a favor de olhar para um marroquino e espancá-lo. Ninguém é a favor disso. Estão a fazer asneiras e roubar, aí sim", diz.
Num outro estabelecimento desta zona, duas clientes, uma mãe e uma filha, tomam o pequeno-almoço. Ambas referem que naquela região há muitos assaltos provocados por imigrantes e que o medo é constante.
"Eles vêm para aqui fazer asneiras, não passo com o meu filho por aí, dá-me medo. Se fazem isto a uma grávida, fazem isto a qualquer pessoa. O povo português não é racista, estamos com medo. Uma coisa é virem para aqui trabalhar, outra é fazer desacatos", atira.
Neste mesmo estabelecimento está um grupo de jovens. Rui Coutinho considera que os imigrantes são bem-vindos, mas não podem vir para fazer mal.
"Uma pessoa não deve ser julgada por não estar no país onde nasceu. Os imigrantes são bem-vindos e deve haver respeito até a pessoa fazer algo errado e ser julgada."
Na madrugada de sexta-feira, ocorreram três ataques e agressões a imigrantes na zona do Campo 24 de Agosto, na Rua do Bonfim e na Rua Fernandes Tomás, no Porto.
Segundo a PSP, os ataques foram feitos por vários grupos, tendo cinco imigrantes sido encaminhados para os hospital devido aos ferimentos.
Na sequência das agressões, seis homens foram identificados e um foi detido pela posse ilegal de arma.
Face à suspeita de existência de crime de ódio, o caso passou a ser investigado pela Polícia Judiciaria.
