Caso encerrado, PS dividido: apesar de ser "bom" para o país, aval ao OE pode provocar "afastamento" à esquerda
No Fórum TSF, Augusto Santos Silva rejeitou "amarras" ao Governo e Manuel Pizarro considerou que o desafio agora é mostrar que esta votação favorável ao Orçamento "não condicionará a capacidade do PS de ser oposição e alternativa"
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Acabou o suspense: Pedro Nuno Santos anunciou, esta quinta-feira, que vai propor a viabilização do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), abstendo-se na votação na generalidade. A decisão (tão aguardada) está revelada e os socialistas, ouvidos no Fórum TSF desta sexta-feira, acreditam que é "a mais razoável" para o país, mas estão divididos relativamente à questão de como será o diálogo com a esquerda a partir de agora.
Manuel Pizarro, que faz parte da Comissão Política Nacional do Partido Socialista (PS), defendeu inicialmente o voto contra o documento, mas, entretanto, mudou de ideias. A razão? "Não há certezas que seja a melhor decisão para o PS, mas é seguramente boa para o país."
Esta luz verde no que ao OE diz respeito não está isenta de "riscos", assinala o também antigo ministro da Saúde, porque o Chega poderá assumir "um discurso não apenas contra o sistema, mas contra a condução política do sistema". André Ventura afirmou, esta sexta-feira, que a abstenção do PS clarifica "quem fica a liderar a oposição".
"Está nas mãos do PS mobilizar o país para que se perceba que esta votação é condicionada pela situação política do país, mas que não condicionará a capacidade do PS de continuar a ser oposição e alternativa", realça igualmente Pizarro.
Por sua vez, o também socialista e antigo presidente da Assembleia da República Augusto Santos Silva crê que a deliberação de Pedro Nuno chegou no momento certo. Além disso, é "a mais razoável e a que defende melhor, em primeiro lugar, os interesses do país e, em segundo lugar, a autonomia e a liberdade de ação do PS".
Rejeita ainda que esta posição "amarre" o partido a uma obrigação de "deixar o Governo governar" — palavras já mencionadas pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro.
"Sem [querer] ser ofensivo, o PS não se pode comportar como aqueles partidos que parecem um bocadinho dependentes de eleições e de crises."
Já o antigo secretário de Estado da Juventude e do Desporto João Paulo Rebelo refere que esta votação favorável no documento é "uma posição para um Orçamento do Estado que é do ano 2025 e, portanto, é tomada hoje e não condiciona o futuro".
Quem tem outro entendimento é Paulo Pedroso, que fala numa "estratégia derrotada". Para o presidente da Causa Pública, a decisão de Pedro Nuno "afasta-o ainda mais" do PCP e do Bloco de Esquerda, já que a imagem que passa é a de "um PS de braço dado com o Governo".
"É um episódio que ele tentará apagar o mais depressa possível e procurar que não identifique a sua liderança", afirma o antigo governante que fez parte dos executivos de Guterres.
Por outro lado, enfatiza que o secretário-geral do PS "não tinha margem para fazer outra coisa", mas tal não o impediu de, na sua declaração, "sacudir a obrigação que o Partido Socialista tenha de viabilizar governos, de viabilizar orçamentos do PSD como regra geral".
"Este foi um debate que atravessou o Partido Socialista nos últimos meses e Pedro Nuno Santos distanciou-se claramente, sugerindo, parece-me, que se o percurso deste Governo se mantiver e se houver descontentamento popular, que hoje ainda não há, ele e o PS não se sentem vinculados a garantir a sua continuidade em nome de um suposto receio da influência do Chega sobre o Executivo."
A Comissão Política Nacional reúne-se na próxima segunda-feira, logo após o Congresso do PSD marcado para este fim de semana, e irá deliberar sobre este tema.

