"Deserto informativo é assustador." Portugal em risco de ter cada vez mais concelhos "invisíveis" para a imprensa
Em declarações à TSF, o presidente do Sindicato dos Jornalistas, Luís Simões, alerta que "a democracia está em risco", uma vez que, "sem fontes de informação credíveis, qualquer mentira parece verdade"
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Um estudo da Universidade da Beira Interior revela que mais de metade do território nacional corre o risco de ficar sem cobertura jornalística. O problema afeta, sobretudo, o interior, mas já está a chegar aos territórios de maior densidade populacional. O estudo "Desertos de Notícias Europa 2025", coordenado em Portugal pelo Laboratório de Comunicação da Universidade da Beira Interior (UBI) e divulgado este sábado pelo jornal Público, alerta para a escassez cada vez maior de rádios, jornais e site dedicados às notícias locais.
Segundo o relatório, há 45 concelhos onde não existe qualquer órgão de comunicação local ou cobertura jornalística, o que afeta perto de 245 mil pessoas. A situação torna-se mais grave quando mais de metade do território nacional — cerca de 1,7 milhões de pessoas — corre um risco elevado de não ter fontes de informação confiáveis e regulares sobre a realidade do próprio concelho. A região de Trás-os-Montes e os distritos de Portalegre e Beja são os mais afetados.
O problema afeta também territórios de maior densidade populacional, como a Amadora ou o Montijo, considerados ameaçados por só existir um meio de comunicação local.
Ainda assim, o relatório destaca um ponto positivo, já que o número de concelhos que representam desertos totais caiu de 54 para 45, em comparação a 2022.
O presidente do Sindicato dos Jornalistas considera que os resultados deste estudo são "assustadores". Em declarações à TSF, Luís Simões mostra-se preocupado, embora não fique surpreendido.
"Infelizmente, não é algo que nos surpreenda. O último estudo da UBI já nos levou a tentarmos sensibilizar o Governo, porque é a democracia que está em risco. E, agora, já não falamos propriamente só do interior esquecido, temos localidades como a Montijo, às portas de Lisboa, que têm um órgão de informação credível. Recordo-me sempre das palavras do ainda Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, dizendo que 'não existe uma democracia saudável sem jornalismo livre e independente'. O que vemos é que o deserto informativo é cada vez mais uma realidade em Portugal e a tendência é para se agravar, o que é assustador", explica à TSF Luís Simões, defendendo que é mais do que tempo do Governo tomar medidas eficazes e concretas.
"Quer-me parecer que, de uma vez por todas, os governos de Portugal devem preocupar-se com isto, porque, sem fontes de informação credíveis, qualquer mentira parece verdade. Ao mesmo tempo que isto acontece, há setores que investem milhões na desinformação", alerta.