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A notícia do despedimento coletivo na Coindu, de Arcos de Valdevez, caiu como uma bomba na região. Mas António Cândido, CEO da empresa, admitiu, esta terça-feira, que este desfecho já poderia ter acontecido antes.
“Estivemos durante um período prolongado a tentar encontrar novos projetos para a Coindu, de Arcos de Valdevez. Infelizmente, na quinta-feira passada, fomos informados que o projeto estava em questão, foi atribuído a outro concorrente nosso. E, portanto, tendo um projeto que vai acabar no fim do ano, não temos alternativa se não encerrar a atividade nos Arcos, infelizmente”, disse aquele responsável, esta terça-feira, após a reunião com o autarca local, João Esteves, admitindo que o grupo recebeu um apoio de quatro milhões de euros do PPR, mas para a unidade de Joane, Famalicão. Pelo que, na unidade do Alto Minho, o desfecho “é irremediável”.
Afirmou que o despedimento coletivo de 350 trabalhadores na fábrica de Arcos de Valdevez é “inequívoco” e deverá ocorrer até final do ano. Garantiu que o grupo vai cumprir com as remunerações conforme a lei para que “haja uma dignidade no fim deste processo”. E adiantou ainda que apesar de “não haver nada em concreto, neste momento”, haverá “alguns interessados no mercado imobiliário”, para compra daquela unidade que encerrará até com final do ano.
“Há aqui uma possibilidade de podermos ter um investimento por parte de outra companhia. Penso que pode haver novidades até ao final do ano”, declarou ainda, indicando que ainda pode “haver reversão” do despedimento, mas “sempre e quando as pessoas estejam de acordo com esta transição”. “Direi que, por parte da Coindu, o despedimento coletivo é inequívoco e teremos de o concluir. Relativamente ao futuro, estamos a trabalhar nisto, estamos a iniciar o processo neste momento, portanto é muito cedo [para adiantar mais informações], neste momento”, notou.
“O facto de termos anunciado, em primeira mão, o despedimento coletivo aos sindicatos e às nossas pessoas foi exatamente pelo respeito às nossas pessoas”, declarou, rejeitando “categoricamente” que tenha havido desrespeito pelos trabalhadores no âmbito do processo. “Se fosse assim, Arcos de Valdvez já tinha fechado há dois anos. Deslocamos de outra unidade em Portugal, projetos para os Arcos precisamente para a manutenção dos Arcos”, indicou, garantindo que não estão em causa despedimentos na unidade de Joane, Famalicão.
“É onde temos o nosso headquarter (sede) e o nosso centro de excelência de desenvolvimento de processo para o grupo, e onde temos a produção de projeto premium que continuarão em Portugal. Não temos dimensão para repartir esses projetos”, disse António Cândido, acrescentando: “A indústria automóvel está numa forte recessão. É público que temos vários clientes a fecharem fábricas em massa na Alemanha e no mundo. Para já todos os projetos que temos são estáveis, o que nos leva a querer que não haverá lugar a despedimentos no futuro.”
Admitiu, por outro lado, que uma parte dos trabalhadores da fábrica que irá encerrar são da região de Arcos de Valdevez, alguns dos quais “com dez e 20 anos de casa”. E disse que, na reunião com João Esteves, este fez-lhe um apelo para que os trabalhadores despedidos possam ser integrados noutras empresas daquele município.
A fábrica a encerrar foi comprada recentemente pelo grupo italiano Mastrotto. “A entrada do capital italiano abre-nos aqui várias portas. Primeiro porque é um investidor que está na área das peles e permite-nos avançar para uma estratégia de integração vertical, não só o que nós fazemos, mas integrando os materiais também. E permite-nos ir para novos mercados, onde a Mastrotto já está implantada, o que para nós é ótimo. Dá-nos uma flexibilidade financeira que seria impossível, só com o corte e costura que fazemos”, explicou o CEO da Coindu.
O presidente da câmara, João Esteves, manifestou “solidariedade” para com os trabalhadores, assinalando que “cerca de um terço” pertencem ao concelho. Por isso, o município disponibiliza-se para tomar medidas de apoio e apelou a que a massa trabalhadora possa ser reintegrada noutras empresas da região. “É uma triste notícia que nos deixa a todos a pensar que é necessário estarmos nesta primeira hora com as pessoas”, disse o autarca, apelando a que, em primeiro lugar, “sejam cumpridas todas as obrigações laborais para com os trabalhadores” e também que estes possam “encontrar soluções” para “este mau momento” que se vive em Arcos de Valdevez.
Defendeu ser necessário “encontrar uma forma, uma iniciativa, que articule apoios entre as várias entidades, do trabalho, emprego, economia, coesão, para que seja possível criar melhores condições para a contratação destas pessoas”. Ou ainda que possam ainda “ter formação, para os que queiram fazer reconversão para outras áreas de atividade”, e até se lançarem “na sua própria iniciativa empresarial”. “A autarquia fará parte desse processo e faremos junto das entidades públicas esse apelo”, vincou, destacando “o impacto” que este desfecho terá na população daquela região.
Sobre a possibilidade da entrada de um eventual novo investidor, João Esteves, apelou também a que “se atue rapidamente, para que seja possível ainda ter alguns ou grande parte destes trabalhadores”.
O fecho da unidade fabril em dezembro foi anunciado pelo Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA), após ter sido comunicado no domingo a representantes do sindicato.
Em comunicado enviado às redações, o SIMA destaca que, "além do impacto em cada um dos diretamente atingidos" com o encerramento da fábrica de Arcos de Valdevez, no distrito de Viana do Castelo, "terá um impacto negativo na comunidade e na região onde a empresa se localiza".
