António Costa e Von der Leyen reduziram-se a participação "absolutamente marginal" em reunião sobre segurança
A tentativa de aproximação de Trump aos russos (a olhar para a China), os europeus de primeira e os subalternos e, quando os EUA reconhecerem as conquistas da Rússia na Ucrânia, "como aparentemente irão fazer", a ordem internacional "deixará de existir". Foi assim o Fórum TSF desta terça-feira
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No dia em que arrancam na Arábia Saudita as conversações diplomáticas entre EUA e Rússia, Victor Ângelo, antigo secretário-geral adjunto da ONU, diz duvidar que esses contactos "significarão o fim do conflito" na Ucrânia. "Tendo em conta a capacidade de combate que ainda existe na Ucrânia e, por outro lado, o extremo nacionalismo, é muito difícil que os ucranianos aceitem um acordo que seja apenas assinado entre Vladimir Putin e Donald Trump", justifica, em declarações no Fórum TSF.
O diplomata encara o que está acontecer em Riade, capital saudita, como uma tentativa de aproximação de Trump aos russos — "que lhe permita depois concentrar toda a sua capacidade tecnológica, toda a sua capacidade militar, toda a sua capacidade económica na competição com a China".
Também na opinião de Victor Ângelo, a União Europeia está num momento "frágil": "Alguns pessimistas dirão que o seu futuro não é brilhante." E vai mais longe nas críticas: "não é normal" que tenha sido o Presidente francês, Emmanuel Macron, a convocar alguns líderes europeus para a reunião sobre segurança em Paris. Aliás, não estarem todos os Estados-membros da UE presentes, como foi o caso de Portugal, mostra "claramente as divisões: há países considerados de primeira e outros que são subalternos".
Além disso, considera, uma iniciativa deste género tinha de ter partido dos altos representantes do bloco comunitário e, pelo contrário, António Costa, presidente do Conselho Europeu, e Von der Leyen, líder da Comissão Europeia, participaram de "maneira absolutamente marginal" no encontro que aconteceu na capital francesa.
Já para Carlos Gaspar, investigador de ciência política e de relações internacionais da Universidade Nova de Lisboa, a "ordem internacional está a ser ativamente desmantelada": começou "pela Rússia com a anexação da Crimeia e pela China com o cerco repetido a Taiwan". E, agora, os Estados Unidos "estão preparados" para seguir o mesmo caminho.
Desde 1945 (ano do fim da II Guerra Mundial) "que as grandes potências não podem simplesmente conquistar os seus vizinhos ou impor cedências territoriais". Quando os Estados Unidos reconhecerem as conquistas da Rússia na Ucrânia, "como aparentemente irão fazer", a ordem mundial "deixará de existir".
Supondo que "os EUA estão a desinteressar-se do ponto de vista estratégico da Europa", a NATO corre o risco de "ficar sem missão", afirma no Fórum TSF o major-general Arnaut Moreira.
É necessário olhar para esse cenário "com bastante cautela, com frieza, com menos histeria e mais racionalidade", e pensar na "transição para outra organização" de defesa pós-Aliança Atlântica que planeie a "arquitetura de segurança", onde os países europeus sejam "os grandes fornecedores de recursos".

