"Situação complicada e muito confusa." À direita e esquerda, partidos franceses unem-se para enfrentar legislativas
Carlos Pereira, diretor do LusoJornal, conta à TSF que os portugueses que vivem em França ficaram "admirados" com a vitória da extrema-direita nas eleições europeias
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Depois da vitória da extrema-direita em França, a esquerda anunciou a intenção de formar um bloco para concorrer às legislativas. Também a direita indicou a intenção de se unir depois do presidente dos republicanos ter defendido uma aliança com o partido de Marine Le Pen. À esquerda, socialistas, comunistas e ambientalistas concordaram em voltar a apresentar candidaturas únicas às eleições de 30 de junho e 7 de julho e defendem uma nova frente popular que junte sindicatos e associações.
A vitória da extrema-direita surpreendeu muitos portugueses que residem em França. À TSF, Carlos Pereira, diretor do LusoJornal, conta que os últimos dias têm sido confusos com o líder do maior partido de direita, Os Republicanos, a estar disponível para uma possível coligação com o partido de Marine Le Pen.
"Ficámos admirados como qualquer francês ficou. É, de facto, uma situação bastante complicada, muito confusa. Até domingo havia uma pulverização de listas, houve 38 listas candidatas a estas eleições europeias e, logo no domingo à noite, a palavra-chave era união. Em poucos minutos, mudou-se completamente o discurso. Os republicanos ficaram também eles muito surpreendidos que hoje o líder do partido tenha decidido aliar-se ao Rassemblement National, era a última coisa a fazer", afirma.
Com o crescimento da extrema-direita, o diretor do LusoJornal, sublinha que os portugueses sentem-se a salvo, uma vez que não são o alvo das ideias anti-imigração.
"Um sociólogo que faleceu há pouco tempo, Albano Cordeiro, dizia que os portugueses estavam protegidos pelo para-raios magrebino. Tudo o que fosse mau, os magrebinos levavam e deixavam os portugueses. Ora, o que se passa é que, muitas vezes, mesmo os partidos da extrema-direita utilizam os portugueses, mostrando-os e apresentando-os como os bons alunos, os que chegaram, que trabalharam, que fizeram a vida aqui e que respeitam e os outros não respeitam. Portanto, utilizam os portugueses como arma de arremesso", considera.
Por não serem os visados, Carlos Pereira diz que há imigrantes portugueses a alinhar nas ideias anti-imigração.
"Há muitos portugueses que se queixam e que dizem que nós não queremos ser comparados com ninguém e que não queremos ser referência. Mas há também os que dizem, sim, claro que nós somos melhores do que os outros e, portanto, há gente que se vai alinhando pela extrema-direita e isso não se passa só aqui, passa-se em Portugal também, esquecendo que aquilo que se passa hoje na chegada dos imigrantes foi aquilo que se passou com os portugueses quando chegaram cá, que moravam em bairros de lata e que eram eles, na altura, os que cheiravam mal, os que vinham para cá invadir a França, os que era necessário combater. Isso durou algum tempo até que houve outros bodes expiatórios", acrescenta.
A primeira volta das eleições francesas estão marcadas para 30 de junho e a segunda volta para 7 de junho.
