Sindicato dos Trabalhadores Consulares defende que "não deve ser uma empresa privada a fazer triagem" de imigrantes
A secretária-geral do sindicato está preocupada com a escassez de recursos humanos nos consulados e pede ao Governo para não olhar para o recrutamento como um despesismo
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O Sindicato dos Trabalhadores Consulares, das Missões Diplomáticas e dos Serviços Centrais do Ministério dos Negócios Estrangeiros vê com preocupação as medidas anunciadas na segunda-feira pelo Governo de que os imigrantes que queiram trabalhar em Portugal tenham de pedir, nos consulados portugueses, um visto específico para o efeito. Ouvida pela TSF, a secretária-geral do sindicato, Rosa Ribeiro, sublinha a atual escassez de recursos humanos e a necessidade de contratar mais gente.
"Uma grande preocupação quando tomámos conhecimento porque é conhecida a situação de escassez de recursos humanos na maior parte dos postos. O sindicato tem vindo a reivindicar, junto dos sucessivos governos, falta de recursos humanos para o trabalho normal do dia a dia, para assegurar a proteção consular dos cidadãos portugueses. Há postos que têm mais vocação relativamente aos pedidos de vistos, mas agora isto quer dizer que pode ser feito em todo o lado", explicou Rosa Ribeiro.
A responsável pede ao Governo para não olhar para o recrutamento como um despesismo.
"Há cerca de 500 trabalhadores que, no nosso entender, fazem falta nos postos. Se houvesse essa possibilidade de reforçar, de haver um investimento em recursos humanos para poder prestar não só um bom serviço às comunidades portuguesas como também a todos aqueles que têm de recorrer aos serviços consulares, para nós isso iria melhorar substancialmente. É preciso que haja uma intenção e não olhar para o recrutamento como despesa, mas como o facto de o funcionário público ser uma mais-valia e uma fonta de receita, sobretudo nesta área dos vistos", afirmou a secretária-geral do sindicato.
O sindicato sublinha que a renovação do capital humano nos postos consulares não acontece ao ritmo desejado, até porque há também que contar com as aposentações de trabalhadores.
"Sabemos que no sentido de recrutamento há medidas para cerca de cem trabalhadores para os postos. A distribuição já terá sido feita e afetados aos referidos postos. Não sabemos se serão 45 a mais ou se integram este grupo de cem funcionários, mas como dizemos que estes cem funcionários praticamente só vão substituir quem se reforma ou aposenta. Estamos num período em que há muita gente com 30 ou mais anos de carreira que está a chegar à idade da reforma e parece-nos que a renovação do capital humano nos postos não tem seguido o ritmo desejado. Esta tarefa vai ser algo muito difícil de gerir. É preciso ter noção que sem ser em grandes países com postos, a maior parte das estruturas são muito pequenas, muitas vezes com um ou dois diplomatas e três ou quatro trabalhadores", revelou.
O sindicato considera uma aberração o recurso a empresas externas para o tratamentos dos vistos antes de serem apresentados nos postos consulares. Uma situação que já dura há mais de uma década.
"Não deve ser uma empresa privada a fazer a triagem e a verificar as condições de acesso ou não ao território português", acrescentou Rosa Ribeiro.