Da "crítica" falta de água aos milhares de euros em tubos de rega. Madeira faz contas aos prejuízos deixados pelo fogo
A presidente da câmara da Ponta do Sol pede à população que gaste água apenas no essencial. Em declarações à TSF, Célia Pessegueiro teme que a água para consumo continue a faltar durante bastante tempo, sendo essa a grande batalha dos próximos dias
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O incêndio que deflagrou na Madeira a 14 de agosto está controlado e em fase de rescaldo, mas agora é tempo de fazer contas aos prejuízos. A presidente da câmara da Ponta do Sol lança um apelo à população: agora que o pior do incêndio parece já ter passado, é preciso gastar água apenas no essencial.
Em declarações à TSF, Célia Pessegueiro diz que a necessidade de desviar água para o combate ao fogo que começou há 11 dias na Madeira está a fazer com que aquele bem essencial falte nas torneiras das casas dos concelhos da Ponta do Sol e da Ribeira Brava. A autarca afirma que ainda vai demorar até que a situação esteja normalizada.
"A água que existe não é suficiente para o consumo, porque ela teve de ser muito canalizada para o combate e, portanto, para estabilizar e para termos níveis de água que permitam o abastecimento regular vai levar algum tempo, porque alguns dos reservatórios distribuídos pelo concelho não têm recebido água suficiente dessas galerias, nem quem nos fornece consegue garantir mais do que isso. Não conseguimos ter mais água disponível para distribuir à população e, portanto, implica ainda que nos próximos dias - diria até na próxima semana ou duas semanas -, haja muita poupança de água para voltar a ter níveis de reservatório que permitam o abastecimento regular", explica à TSF Célia Pessegueiro.
A autarca pede à população que poupe e fala de uma situação crítica. "Ainda ontem havia falta de água na vila da Ponta do Sol. A rede esvaziou de tal forma que mesmo a zona mais baixa estava sem água. Durante o dia, com o consumo, ainda se torna mais crítico e durante estes dias todos apelámos a que as pessoas consumissem apenas para o essencial, inclusive na rega das flores que não usassem a mangueira, apenas o suficiente para sobreviver, mas não desperdiçar água porque vai levar algum tempo a estabilizar. O fornecimento de água nesta zona não é apenas para a Ponta do Sol, abastece também uma parte da Ribeira Brava e não nos podemos esquecer que as cinzas espalharam-se, também há consumos noutros sítios e tem de haver mesmo apelos redobrados e sensibilidade da população para reduzir o consumo ao máximo até que se comece a entrar numa fase de estabilidade", afirma.
A presidente da câmara da Ponta do Sol refere também que a necessidade de garantir água para o combate aos fogos é um esforço adicional para uma rede frágil. "O fornecimento de água é da Águas e Resíduos da Madeira, que fornece em reservatórios em pontos estratégicos no concelho, e é a partir daí que distribuímos. O racionamento já teve de ser feito para disponibilizar água em pontos críticos, também há pontos muito complicados quando perdem água, porque esta é uma rede com muito relevo, há zonas que perdem água e depois é difícil estabilizar a rede por causa do ar nos tubos e, portanto, é muito complicado que algumas zonas fiquem sem água e, para garantirmos mínimos nessas zonas, há outras que ficam quase sem água", acrescenta.
Célia Pessegueiro teme que a água para consumo continue a faltar durante bastante tempo, sendo essa a grande batalha dos próximos dias.
No concelho vizinho da Ribeira Brava é hora de limpezas. O vereador da Proteção Civil, Paulo Andrade, afirma que só em tubos de rega os prejuízos andam na ordem dos 30 mil euros. Além disso, será preciso também reparar alguns muros de contenção junto às estradas, algo que vai ser "muito mais caro".
A autarquia irá avançar também com uma desratização: "Como a zona está toda queimada, os ratos dirigiram-se para as zonas habitacionais e então vamos fazer agora uma desratização em massa para dar segurança à população. É uma questão de saúde pública."
A câmara da Ribeira Brava tem a funcionar um gabinete de crise, que já recebeu cerca de 70 pedidos de ajuda, nomeadamente para tubos de rega, comida para os animais e relativamente às árvores que acabaram queimadas pelas chamas.
De acordo com o último balanço feito pelo Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (Copernicus), divulgado na sexta-feira à noite, a área ardida no incêndio rural que lavrou na ilha da Madeira atingiu nessa manhã os 5.045,8 hectares.
O incêndio deflagrou no dia 14 de agosto, nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e, através do Pico Ruivo, Santana.
O combate às chamas foi dificultado pelo vento e pelas temperaturas elevadas, mas não há registo de destruição de casas ou de infraestruturas essenciais.
Alguns bombeiros receberam assistência por exaustão ou ferimentos ligeiros, não havendo mais feridos.
A Polícia Judiciária está a investigar as causas do incêndio, mas o presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, disse tratar-se de fogo posto.