ULS com dívidas superiores a 1500 milhões de euros. Administradores hospitalares falam em "subfinanciamento"
Em declarações à TSF, o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares pede uma mudança de atitude por parte do Governo
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O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, Xavier Barreto, lamenta a falta de financiamento das Unidades Locais de Saúde (ULS). Em declarações à TSF, o responsável lembra que "as ULS assinam contratos de programa com o Estado, como fizeram agora no início de 2025, e esses contratos já preveem resultados negativos". Xavier Barreto assinala, por isso, que os 1500 milhões de dívida das Unidades Locais de Saúde, em 2024, "não pode ser uma surpresa".
Segundo dados da monitorização económico-financeira da Administração Central do Sistema de Saúde, citados pelo Jornal de Notícias, foi a região norte que apresentou os piores resultados, ao acumular perdas de 560 milhões de euros. Em Lisboa e Vale do Tejo, o prejuízo foi de 533 milhões, enquanto no centro a dívida ficou nos 287 milhões. As regiões do Alentejo e do Algarve são as que apresentam melhores resultados, mas, ainda assim, registam perdas de 82 milhões e 71 milhões, respetivamente.
Os dados mostram também que, em 2024, houve um recuo significativo dos pagamentos em atraso, o que pode ser explicado com a injeção financeira de 975 milhões de euros do governo para pagar a fornecedores. Xavier Barreto questiona a forma como estas injeções do Estado são feitas: "Se os hospitais começam o ano sabendo que vão acumular dívida e se o Estado sabe que no final do ano tem de fazer esta injeção extraordinária de capital, que já é habitual, porque é que não o faz antes?".
O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares garante, no entanto, que não está em causa o funcionamento das unidades de saúde, apesar de trazer constrangimentos. Xavier Barreto sublinha ainda que os atrasos nos pagamentos levam a um aumento dos custos. "Um hospital que tem dificuldades em pagar as suas compras a tempo, obviamente que acumula dívida e, naturalmente, um fornecedor que sabe que vai levar tempo a receber, faz um preço mais elevado", explica, acrescentando que "é razão para o Governo refletir sobre a mudança que tem de fazer".
O responsável não descarta também que uma pequena parte desta dívida possa ser explicada com a má gestão das unidades de saúde. "Obviamente que em alguns casos poderão existir oportunidades de melhoria da gestão, até porque quando nós colocamos na liderança pessoas que não estão capacitadas para fazer a gestão das ULS, naturalmente, tem consequências", refere Xavier Barreto.