Poucas ideias e muito ruído. Rui Rocha e Malheiro não se entendem: "nepotismo" e "cobardia"
Em debate, na TSF, Rui Rocha e Rui Malheiro trocaram várias acusações. O opositor interno, afinal, "não tem candidato presidencial"
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Tensão e pouca troca de ideias. Rui Rocha e Rui Malheiro acordaram apenas um debate em tempo de campanha interna para a presidência da Iniciativa Liberal (IL), na TSF, mas pouco discutiram sobre o futuro do partido. Num debate ruidoso, com várias trocas de acusações, Rui Malheiro voltou a acusar a atual direção de “nepotismo”, embora não concretize, com Rui Rocha a apontar “cobardia” à candidatura adversária.
Coligações nas eleições autárquicas “só para ganhar”, mas este ainda não é o momento, embora Rui Malheiro admita que Moedas “é tudo menos liberal”. Quanto às presidenciais, embora tenha lançado Carlos Guimarães Pinto para a corrida a Belém, Rui Malheiro admite agora que “não tem candidato”.
Em 40 minutos, o tom subiu em grande parte do tempo, com Rui Malheiro, que abriu o debate, a acusar Rui Rocha de “fugir aos debates”, alegando indisponibilidade de agenda. Rui Rocha nota “o absurdo”: “Eu já assisti a muitas coisas em política, mas ser acusado de fugir a debates, num debate, é a primeira vez”.
“O tipo de campanha que Rui Malheiro tem feito é de ataque soez, tentar enlamear o nome da Iniciativa Liberal e arrastar a discussão para a lama”, acrescentou Rui Rocha, lembrando que, na moção, a candidatura adversária escreve que “rejeita o nepotismo e o favoritismo”, numa crítica à atual direção.
Embora sem concretizar, Rui Malheiro lembra que Rui Rocha apresenta-se a eleições “com o mesmo núcleo duro”, ou seja, com os mesmos candidatos que pertencem à atual direção, lamentando que os membros não saibam “quem são os funcionários, quantos funcionários tem o partido, que relações têm, se há algum processo de intenções”.
Recordando que os candidatos que enfrentaram Rui Rocha há dois anos, Carla Castro e José Cardoso, entretanto, abandonaram o partido, Rui Malheiro lamenta que o atual presidente tenha “enfraquecido o liberalismo em Portugal” e, garante, nesta altura o partido conta com “menos 33% de membros inscritos” comparativamente com a última convenção.
Moedas “é tudo menos liberal”. Rocha alerta para perfil dos candidatos
Quanto o debate se centra nas eleições autárquicas, Rui Rocha não desfaz o tabu. As conversas com o PSD, para possíveis coligações, estão suspensas e qualquer acordo será firmado apenas para autarquias onde seja possível ganhar, com um programa que “traga mudanças” aos municípios.
É essa a lógica para “Lisboa, Porto” ou em qualquer autarquia, quando questionado se tem interesse em coligar-se com Carlos Moedas na capital. Resposta pronta tem Rui Malheiro quanto ao edil de Lisboa, que “é tudo menos liberal”.
Rui Malheiro acusa ainda o atual presidente da Comissão Executiva de não visitar os núcleos territoriais do partido, e garante que “há muitas candidaturas que já estão a ser apalavradas”: “O que nós não queremos é trocar cargos por moedas”.
Neste caso, tanto em Lisboa, como no Porto, como em Faro, o que nós queremos é políticas liberais. E essas políticas liberais, normalmente, só se fazem em pista própria. Já vimos que o PSD, o Chega e o PS são mais do mesmo, são exatamente o mesmo sistema”, acrescentou.
Rui Rocha defende, no entanto, que este é o tempo dos núcleos, mas há um “conjunto de critérios que podem justificar a exceção” e alerta para o perfil de todos os candidatos, lembrando que, em Loures, Ricardo Leão “manchou” o PS quando admitiu despejar de habitações públicas os que se envolveram nos tumultos em Lisboa.
“Vimos bem como um caso de um autarca pode manchar o nome do partido e, portanto, uma marca demora muito tempo a construir. E desbarata-se em pouco tempo se não formos claros na sanção e na condenação deste tipo de situações. Portanto, têm que ser soluções de confiança, têm que ser soluções que tragam mudança às pessoas”, avisou.
Presidenciais? Malheiro, afinal, “não tem candidato”
Depois de ter lançado Carlos Guimarães Pinto para a corrida a Belém, embora não o tenha contactado, Rui Malheiro admite agora que “não tem candidato” para a sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa. Rui Rocha nota uma “grande irresponsabilidade” ao adversário e lembra que na moção de estratégia de Rui Malheiro pouco se diz sobre as eleições presidenciais.
O opositor interno, que lidera o movimento Unidos Pelo Liberalismo, justifica que quer ouvir o Conselho Nacional, numa primeira fase, antes de tornar pública qualquer decisão sobre o candidato liberal. Acusa ainda Rui Rocha de “desrespeitar” os órgãos do partido, seguindo a lógica do “quero posso e mando”.
Para Rui Rocha “fica claro que Rui Malheiro não só não tem candidato presidencial, como não tem respeito nem pelas pessoas de quem fala, nem pelo Conselho Nacional”. O atual líder nota que “se Carlos Guimarães Pinto tivesse dito que estava disponível, já tinha um candidato sem falar com o Conselho Nacional”.
Certo é que também Rui Rocha continua sem revelar o nome que vai propor para o Palácio de Belém, embora garanta que já falou com um membro do partido, que “aceitou” o desafio. Mariana Leitão e Rodrigo Saraiva são os nomes de que se fala, e o anúncio está previsto para a convenção.
A convenção que vai eleger o líder do partido está marcada para 01 e 02 de fevereiro, no Pavilhão Paz e Amizade, em Loures. A nova contenda interna decorre dois anos depois das últimas eleições, que juntaram Rui Rocha, Carla Castro e José Cardoso. Dos três, apenas Rui Rocha continua como membro do partido.