"Liga não faz bem aos bombeiros." Sapadores arrasam António Nunes e fazem pedido ao Parlamento

O Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores afirma que o presidente da Liga dos Bombeiros devia afastar-se do cargo. Em resposta à proposta de António Nunes, o presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros, recusa qualquer mediação por parte do responsável da Liga dos Bombeiros Portugueses e afirma que António Nunes só "quer protagonismo". Ricardo Cunha adianta ainda que os sapadores-bombeiros vão pedir ao Parlamento para fiscalizar o processo negocial com o Governo.

O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, António Nunes, expressou, esta sexta-feira, "disponibilidade" para mediar o braço de ferro entre Governo e Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores, no dia em que ambas as partes se reúnem para discutir as reivindicações desta classe.

"O senhor António Nunes tem de perceber uma coisa: era um favor que fazia aos bombeiros afastar-se da Liga. A própria Liga não faz bem aos bombeiros, nem aos trabalhadores, nem aos voluntários. O senhor António Nunes quer protagonismo, mas a negociação tem de ser feita por quem compete, que é pelos sapadores-bombeiros com o Governo", considera Ricardo Cunha, em declarações à TSF, afirmando que "um dos problemas dos bombeiros em Portugal é a Liga".

"Se a Liga dos Bombeiros quisesse o bem do socorro para o país, defendia a profissionalização do setor e não dizia as barbaridades que costuma dizer, que 'isso custaria não sei quantos mil milhões de euros', algo que é completamente falso. A última vez que o ouvi falar, ele disse que para 26.000 bombeiros, custaria 2,5 mil milhões de euros. Se ele fizer as contas, isso daria um ordenado a cada bombeiro, multiplicado por 14 meses, de cerca de sete mil euros. Ou seja, ele nem sabe aquilo que diz", atira.

Ricardo Cunha sublinha que se a Liga defendesse a profissionalização de todos os bombeiros, o sistema seria mais transparente. "Dão muitos ouvidos à Liga e isto não é o melhor para o nosso país. Se o nosso país tivesse bombeiros profissionais a sério, e era o justo porque todos pagamos impostos e depois ainda damos mais doações para associações e por aí fora... mas está tudo completamente descontrolado. O Tribunal de Contas, inclusive, já avisou disso tudo. Seria muito mais benéfico para o país se tivéssemos sapadores-bombeiros, pagávamos os nossos impostos e tínhamos bombeiros profissionais 24 horas por dia, altamente treinados e preparados para socorrer", explica, garantindo que "não é isso que acontece".

"É um sistema que está montado no nosso país e toda a gente sabe disto, mas ninguém tem coragem de tocar. Depois temos aqueles casos que vemos de desvios de dinheiro das associações que ninguém sabe para onde ele vai. Mas esse dinheiro que se desvia é dinheiro dos contribuintes. E isto é uma preocupação para o senhor presidente da Liga, mas não é o senhor presidente da Liga cada vez que fala pede mais dinheiro", reforça.

O presidente do Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores adianta que, esta tarde, antes da reunião com o Governo, vai dirigir-se à Assembleia da República e pedir que a 13.ª comissão, a comissão de Poder Local e Coesão Territorial, fiscalize o processo negocial. 

"Eu quero acreditar que estou num país democrático, mas aquilo que o senhor primeiro-ministro fez não se coaduna com uma democracia. Ainda para mais, diz aquilo a rir-se, ou seja, ofendeu todos os homens e mulheres que diariamente vestem a farda de sapador-bombeiro para proteger os portugueses. Tem de vir a público pedir desculpas. Aquilo que o primeiro-ministro fez ontem [quinta-feira] é completamente vergonhoso e não vamos aceitar isso", reafirma.

Ricardo Cunha tem "esperança" que a 13.ª Comissão "faça aquilo que lhe compete, que é fiscalizar aquilo que se está a passar". "O Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores está de boa-fé e com transparência no cumprimento do protocolo negocial. Alguém violou o protocolo negocial e não fomos nós, dividiram as mesas negociais, têm dito que não nos dizem o que negoceiam com outros sindicatos por questão de confidencialidade, não se percebe o que estão a esconder", adianta, acrescentando que "os próprios trabalhadores filiados em todos os sindicatos estão a pedir a 13.ª Comissão que fiscalize aquilo que se está a passar".

A 13.ª comissão é presidida por Bruno Nunes, deputado do Chega. 

As declarações de António Nunes surgem um dia após o aviso final de Luís Montenegro. O Governo "esgotou" a sua capacidade negocial com as entidades representativas dos sapadores-bombeiros e, por isso, avançará "unilateralmente" sem ter em conta as mais recentes aproximações, se o impasse persistir. 

"Se quiserem que nós façamos de ponte entre posições, antes de serem extremadas, a Liga dos Bombeiros Portugueses está disponível para ajudar a que os bombeiros de Portugal tenham as melhores respostas possíveis às suas reivindicações", garantiu, acrescentando que estas exigências vão "além das próprias remunerações, retribuições e carreias".