Nuno Melo abriu ferida e agora ouve que “Olivença é portuguesa”. O protesto no 1.º de Dezembro e as mensagens políticas de Moedas
Nuno Melo e Carlos Moedas discursaram na Praça dos Restauradores, onde se gritou por Olivença
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Um protesto por “Olivença portuguesa” marcou as cerimónias da Restauração da Independência em 1640, na Praça dos Restauradores, em Lisboa. O ministro da Defesa, Nuno Melo, defendeu em setembro que Olivença é portuguesa e “não abdica” da cidade que integra a província espanhola de Badajoz. Agora, ignorou a questão, mas no discurso na cerimónia sublinhou o papel dos antigos combatentes.
Cerca de 30 manifestantes lembraram “uma ferida” que dizem que “está por sarar”. Em vários cartazes lia-se que a “restauração está incompleta porque falta Olivença” e sem a cidade “Portugal está amputado”.
Não foram cumprimentados, nem pelo Presidente da República, nem mesmo pelo ministro Nuno Melo que aos jornalistas “recomendou a leitura de uns livros de história para que os portugueses possam ser poupados a uma certa ignorância que vai grassando por aí”.
E mais não disse, embora tenha sido saudado pelos manifestantes na chegada à Praça dos Restauradores. No discurso, não houve qualquer referência ao tema, sublinhou, isso, sim, o papel dos antigos combatentes.
“Os antigos combatentes são heróis de Portugal que devemos saber honrar e homenagear, nunca esconder ou esquecer. O mesmo devemos estender aos corajosos militares a quem devemos a nossa democracia, nascida em 25 de Abril de 1974, e aos corajosos militares que confirmaram essa mesma democracia em 25 de Novembro de 1975”, destacou.
Para o ministro da Defesa, em 1640 “resgatou-se a pátria”. Uma data que os jovens não devem ignorar: “Sintam orgulho no passado e que esta história vos inspire para continuar a construir um futuro glorioso para Portugal.”
Antes, tomou a palavra o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, que deixou três lições sobre o tempo em que o reinado português era liderado por espanhóis. A primeira lição é também uma mensagem para “os extremismos políticos”.
“Naquela altura pouco se poderia fazer além de chamar pelo rei encoberto e chamar pelo rei encoberto era chamar pelo impossível, tal como hoje, quando vemos os extremismos a prometerem o impossível. Apresentam falsas soluções para os problemas. A liderança política não vende ilusões às pessoas. A liderança política entrega concretizações, deixa resultados”, disse o autarca.
As ilusões na política “são fatais”, acrescentou o presidente da Câmara de Lisboa. A restauração da independência é também, nas palavras de Moedas, uma lição para que o país não dependa de terceiros.
“Serve de lição para Portugal e para a Europa. Serve de lição para Portugal, que não pode ser um país que está sempre de mão estendida à Europa. Serve de lição à Europa, que não pode continuar dependente da boa vontade dos outros, da defesa norte-americana, da economia chinesa ou da energia russa. Tanto Portugal como a Europa têm de saber depender mais de si mesmos”, apelou, num discurso para lá do seu papel como autarca.
O Presidente da República depositou uma coroa de flores no monumento aos restauradores, mas, como habitual, não discursou. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, fez-se representar pelo ministro da Defesa.