Infraestrutura Pública, o grupo que pôs mãos à obra pela "luta mais triste do mundo"
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Chamam-se Infraestrutura Pública e ficaram conhecidos por estes dias com a instalação de um banco de madeira numa paragem da Carris. Antes já lutavam por casas de banho públicas, fontes e bebedouros, e mesas e cadeiras nas praças e jardins de Lisboa.
São jovens, gostam de estar na rua e de ter condições para isso, sem terem necessariamente de estar a consumir numa esplanada. Queixam-se do que dizem ser uma "arquitetura hostil" e da "retirada constante" de bancos e cadeiras das praças e jardins, das casas de banho que antes eram grátis e agora passaram a ser pagas, com valores díspares, sem qualquer justificação que considerem plausível por parte das juntas de freguesia.
Marta integra o coletivo que, nos últimos meses, se tem envolvido em várias ações. Ela explica à TSF que as lutas do grupo centram-se em três vertentes: "água pública, casas de banho públicas e bancos públicos", já que são estas três coisas, do seu ponto de vista, que transformam o espaço em uso público.
Na primeira intervenção do Infraestrutura Pública repuseram as mesas e cadeiras que a Junta de Freguesia da Penha de França tinha retirado da praça Paiva Couceiro. A seguir andaram de praça em praça com uma casa de banho portátil para mostrar a falta que elas fazem na cidade, desde o Martim Moniz, Largo de Santa Bárbara, Praça Paiva Couceiro, Jardim da Alameda, Praça do Comércio, e o Rossio. "Foi uma semana inteira, a levar a casa de banho a todo o lado", conta a ativista.
O colectivo também já fez com que o chafariz do Intendente voltasse a ter água, e o Jardim Constantino cadeiras. E, na semana passada, os ativistas instalaram um banco de madeira numa paragem de autocarro perto do Marquês de Pombal. Um acto simbólico para chamar a atenção, mas que acabou a fazer diferença para muitos cidadãos.
Tu sabes que Lisboa tem muitos velhos com muletas, mas, na verdade, tens muitos trabalhadores, ou seja, não estão reformados, e vão e voltam do trabalho de muletas, com os corpos magoados.
Marta mostra fotos para ilustrar o número de pessoas que passou por ali que não tinha nada que indicasse que precisava de se sentar, mas que afinal necessitava: "Este senhor que tinha o joelho muito inchado e no dia a seguir ia fazer uma ressonância magnética; esta senhora que trabalha numa pastelaria o dia inteiro em pé, e que nos disse que a espera pelo autocarro era o único tempo que tinha para descansar as pernas; esta senhora que apanhava ali, na Avenida Fontes Pereira de Melo, o autocarro direto para casa, e que agora faz um percurso muito mais longo, pelo Saldanha, porque prefere apanhar outro autocarro que tem o banco para sentar, para depois ir para casa."
O banco tinha as medidas e os encaixes certos para caber numa das novas paragens da JCDecaux que agora só têm encosto: "Fizemo-lo numa oficina com restos de madeiras que fomos encontrando. Ninguém comprou madeira nova, eram restos. O banco esteve lá desde as sete e meia da manhã até às oito da noite. No outro dia já tinha desaparecido, mas, enquanto ele esteve lá, foi bastante usado. Ou seja, nós não precisávamos de nenhuma justificação para perceber como um banco faz falta numa paragem de autocarro, mas estivemos lá um dia inteiro e constatámos que é mesmo muito importante, e não só para pessoas que andam de muletas."
Esta iniciativa leva Marta a dizer que "esta é a luta mais triste do mundo", porque é a luta pela reposição de "um banco de um metro", que mesmo quando lá estava já era insuficiente para acomodar todos os que apanham o autocarro e têm de lidar com atrasos.
"Quem nos dera a nós ter muita madeira, muito tempo livre, e muitas oficinas para construir bancos e pô-los nas cerca de 50 paragens que, entretanto, já não os têm", desabafa Marta, ao mesmo tempo que sublinha que é à autarquia que compete zelar pelo espaço público, e "desfazer uma obra que ficou pior".