"Fazemos milagres." Modalidades não podem ser "vítimas do sucesso" após fim de semana histórico
Do andebol ao basquetebol, presidentes das várias federações pedem mais investimento e destacam o esforço dos atletas e dos dirigentes: "O desporto nacional está refém do voluntariado." Apesar das dificuldades, as seleções atingem "resultados de exceção" que são a "projeção da excelência do país"
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Portugal não dá só cartas no futebol. Após a seleção feminina de basquetebol qualificar-se, pela primeira vez na história, para o Campeonato da Europa, o presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol, Manuel Fernandes, assegura que este apuramento é "épico" graças à "alma imensa e a capacidade de esforço tremenda" das atletas.
Para Manuel Fernandes, em declarações no Fórum TSF, o desporto português faz "milagres", tendo em conta que vive de infraestruturas escassas e do esforço dos dirigentes, que "não são reconhecidos, acabam um emprego e lá vão eles dar apoio, são anónimos e não têm nenhuma benesse".
Também a seleção de râguebi garantiu um lugar no Mundial, um feito alcançado pela segunda edição consecutiva, sendo a terceira vez que marcará presença na competição. Nesta linha, o presidente da Federação Portuguesa de Râguebi, Carlos Amado da Silva, reclama mais apoios à boleia da qualificação para o Austrália 2027, exigindo que "a qualidade deve ser premiada".
Aponta igualmente que o último Campeonato do Mundo deu "500 mil euros de prejuízo" e questiona como será agora que estão a novamente a lutar pelo título. Recusando-se a fazer comparações com países que têm "orçamentos superiores", Amado da Silva refere que Portugal é o 16.º no ranking mundial: "É uma coisa fantástica."
Quem também tem razões para festejar é o presidente da Federação de Andebol de Portugal. Nesta modalidade, os heróis do mar são a 4.ª melhor seleção do mundo. Celebrações à parte, Miguel Laranjeiro lamenta que o PRR pouco ou nada tenha para o desporto.
"Nós, todas as modalidades, não podemos ser vítimas do sucesso. Fazemos trabalho de base com muito voluntariado, com os atletas a darem o seu melhor para a seleção nacional de andebol que, de repente, é um sucesso. Ter resultados de exceção é a projeção da excelência do país."
A palavra voluntariado surge também no discurso do presidente da Confederação do Desporto de Portugal, Daniel Monteiro. O contexto? "Obviamente que o desporto nacional está muito refém de uma base voluntária ligada ao associativismo, que, muitas vezes, não tem os recursos que outros países têm para conseguir colocar os nossos atletas e as nossas seleções no topo", afirma.
Também ouvido no Fórum TSF, Daniel Monteiro insiste que a chave para o sucesso passa por dar condições ao desporto na escola, nomeadamente as crianças "terem formação física e motora no primeiro ciclo" e, mais tarde, receberem "uma formação mais direcionada para a aprendizagem de determinadas modalidades".
Por sua vez, Pedro Farromba, secretário-geral da Federação Portuguesa de Desportos no Gelo, deixa elogios à campeã mundial júnior de patinagem de velocidade no gelo, Jéssica Rodrigues, "uma atleta de excelência", e também aos resultados alcançados por Francisca Henriques (4.º lugar, na mesma prova) e por Afonso Silva (6.ª posição, na vertente masculina do mass start). Estes resultados dão "orgulho", "mas também uma noção daquilo que é preciso fazer mais pelo desporto".
E finaliza citando o falecido presidente do Comité Olímpico José Manuel Constantino para assim destacar o "espírito necessário para mudar a sociedade e a mentalidade das novas gerações": "O Desporto é um bem público que socialmente vale mais do que aquilo que custa."

