A Associação de Solidariedade Social dos Professores tem alojamento para os docentes colocados longe da área de residência. Reportagem TSF com duas professores tão longe de casa
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A mala ainda está encostada a um canto, no quarto de Ana Cristina Pinto. Professora do ensino básico, 38 anos, Ana Cristina foi colocada numa escola em Lisboa, pelo quarto ano consecutivo. Deixou a família, marido e uma filha de seis anos, em Lamego, onde regressa todos os fins-de-semana. É difícil estar longe de casa”, reconhece no quarto que ocupa na sede de Lisboa da Associação de Solidariedade Social dos Professores (ASSP). “É uma segunda casa e uma segunda família”, descreve Ana Cristina, que está pela quarta vez neste alojamento. É necessário ter uma “resistência mental” para estar longe da família, ainda mais quando a filha pergunta “porque é que não estás aqui?”, conta a professora, a poucos minutos da videochamada diária para Lamego.
Além de Lisboa, a ASSP tem outras três casas para alojar professores deslocados: em Santarém, Portalegre e Madeira. Porém, “nunca há quartos vagos”, revela a presidente Ana Maria Morais, que considera “uma injustiça muito grande” a colocação de professores longe de casa. É uma situação que “não pode continuar. A escola tem de mudar”, defende a líder da ASSP, que deu aulas durante 38 anos.
Fernanda Cristina confirma que se sente “injustiçada”. Professora de Matemática e Ciências do 2.º ciclo, mudou-se de Amarante para Lisboa, pela quarta vez. “É muito cansativo (…), merecíamos que nos ajudassem a estar perto de casa”, desabafa. “Choramos, rimos.” Tentam encontrar alento noutros docentes com quem partilham o alojamento temporário, mas “está a custar muito”, conta numa voz sussurrada.
“A nossa vida é esta”, mas Fernanda confessa que já pensou desistir da carreira docente. “Para o ano, não consigo aguentar mais, estou no limite.”
A presidente da ASSP nota a tristeza dos professores deslocados a quem a Associação quer disponibilizar mais casas. Já estão referenciadas duas moradias em Colares e Mem Martins, no concelho de Sintra, e um apartamento no Algarve, que vão ter obras para acolherem os professores. Os quartos estão destinados aos sócios da ASSP, por um valor mensal ainda a definir, mas que. no ano passado, foi de 400 euros, na sede de Lisboa. O valor inclui despesas e pequeno-almoço.