Um em cada três professores reporta casos de violência frequente entre alunos
Em declarações à TSF, o investigador Pedro Freitas confessa ter ficado "surpreendido" e avisa que este dado sinaliza a "realidade que os professores têm de enfrentar todos os dias", que "condiciona muito" o processo de aprendizagem
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Metade dos professores tem nas suas turmas alunos do ensino básico e secundário que faltam frequentemente às aulas e um em cada três docentes conhece casos de violência entre os estudantes, segundo dados preliminares de um estudo nacional divulgado esta sexta-feira.
Estes são alguns dos resultados do estudo “A profissão docente em Portugal: Motivações, desafios e barreiras ao desenvolvimento da carreira”, que será hoje apresentado na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa durante a "Grande Conferência Educação e Transformação".
Em declarações à TSF, o investigador Pedro Freitas confessa ter ficado "surpreendido" com os casos de violência entre alunos, apontando que isso é um sinal da "realidade que os professores têm de enfrentar todos os dias", que "condiciona muito" o processo de aprendizagem.
Ressalva ainda que a necessidade de "formação contínua" sentida pelos docentes é "muito relevante" porque prova que se querem "atualizar". Agora, é preciso saber se a oferta está ajustada à procura.
"Devemos perguntar se nós temos formações que vão ao encontro desta necessidade de atualização científica dos professores", aponta.
Cerca de dois mil docentes de mais de 300 escolas do ensino básico e secundário de todo o país responderam este ano a um inquérito que revela, entre outros aspetos, as principais dificuldades que enfrentavam.
Outra das conclusões deste estudo é que apenas dois em cada dez professores têm conhecimento de um programa de integração de novos profissionais, embora sejam muito importantes. Pedro Freitas fala numa "mudança geracional" nas escolas portuguesas.
"Como a formação inicial de professores clássica e tradicional, via licenciaturas e mestrados, não produziu nos últimos anos a quantidade de professores que é necessária agora, está-se inevitavelmente a contratar professores que têm a sua componente científica feita, ou seja, estudaram um curso numa determinada área que os habilitasse a professores, mas muitas vezes ainda não fizeram a sua formação pedagógica", afirma.
Mas esta questão acarreta um problema particular: se as instituições forem incapazes de acolher e integrar os novos professores, estes "são também difíceis de reter".
Face a estes resultados, Pedro Freitas adianta algumas medidas "essenciais" que devem ser adotadas pelo novo Governo para garantir uma maior atratividade da classe.
"A questão dos incentivos financeiros diferenciados por região. Eu até admito diferenciados por disciplina. Rever o arco salarial ao longo da carreira para criar incentivos no início, rever os mecanismos de formação inicial para garantir que conseguimos dar uma formação inicial que chegue aos professores que hoje já estão nas escolas e que não têm a sua formação pedagógica", sugere.
Os resultados preliminares deste estudo vão ser apresentados esta sexta-feira na Grande Conferência Educação e Transformação. Nessa mesma conferencia será apresentado um outro estudo que revela quer 40% dos professores podem reformar-se nos próximos cinco anos. A previsão é apontada numa investigação da consultora Win World, que visa identificar as questões mais críticas e os temas prioritários da educação.
Uma das coordenadoras deste estudo, Carlota Ribeiro Ferreira, considera que este dado é preocupante, principalmente tendo em conta que menos pessoas querem ser professores.
"Os estudos apontam que 40% dos professores atuais vão-se reformar até 2030. Ora, 2030 é daqui a cinco anos e o problema acrescido é que há, em paralelo, um declínio constante no número de professores que sonham ser educadores. Ou seja, na última década passamos de 8,8% de diplomados na área de educação para 3,8%, ou seja, cada vez há menos pessoas a quererem ser professores", lamenta, à TSF.
Carlota Ribeiro Ferreira destaca também a integração de alunos imigrantes e a saúde mental dos estudantes como preocupações a ter em conta no setor da educação.
"Desde 2020 que tivemos um aumento de 71% na diversidade de alunos, portanto, na integração de alunos imigrantes. Isto é uma riqueza enorme. Porém, traz imensos desafios: são políticas que têm que se trabalhadas com intencionalidade. Outro tema que me preocupou foi o tema da saúde mental, da ansiedade e da depressão. Estima-se que 45% dos adolescentes portugueses apresentam sintomas depressivos e os níveis de ansiedade dos alunos são um desafio a ter em extrema atenção", alerta.
A promotora do estudo indica ainda que 37% dos alunos precisam do apoio da ação social escolar, sublinhando a importância da escola ser um espaço de segurança emocional e de pertença.
