"A situação é vergonhosa." Portugal "poderia fazer muito mais" para integrar imigrantes
No Fórum TSF, agricultores e empresários da restauração defenderam que a economia portuguesa "precisa" dos imigrantes e, por isso, o país deve receber bem quem chega
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O secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) não tem qualquer dúvida: sem os imigrantes, a agricultura em Portugal não é viável, defendeu, esta manhã, no Fórum TSF. Do ponto de vista de Luís Mira, "não é possível crescer economicamente" se Portugal, "um país com uma população envelhecida", não resolver a questão da falta de mão de obra.
Para "se acabar com toda esta lentidão", é necessário "criar condições para que os imigrantes venham e isto não se resolve sem aumentar a capacidade dos serviços consulares para passarem vistos", sublinhou ainda o secretário-geral da CAP. "As próprias empresas desenvolvem ações de recrutamento em países, por exemplo, da Ásia, mas depois os serviços consulares não conseguem ter capacidade para passar os vistos, demoram meses e isso não é compatível com as necessidades que o setor tem. A situação aqui em Portugal, como se viu nestes últimos dias, é vergonhosa."
Por sua vez, o presidente da Associação Nacional de Restaurantes (PRO.VAR), Daniel Serra, assinalou que os problemas que existem nos processos burocráticos afetam a restauração e defendeu que o país tem obrigação de receber bem quem chega: "As pessoas vêm com a sua vida sem grande estabilidade. Isso, naturalmente, impacta logo naquilo que a restauração precisa, que é profissionais com formação. Muitos [empresários] investem na formação depois de ver os seus funcionários a saírem muito rapidamente."
A presidente da Casa do Brasil, ouvida também no Fórum TSF sobre os problemas na AIMA, considerou que a criação desta entidade é um passo positivo, contudo não tem conseguido manter um diálogo com as associações de imigrantes.
"A criação da agência tem cerca de seis meses, é pouco tempo, até porque a AIMA acumula as funções administrativas do antigo SEF e também as funções do Alto Comissariado das Migrações. De facto, é um grande desafio. Do nosso ponto de vista, poderia, sim, estar a fazer muito mais, mas nós vamos sempre lutar para que os direitos sejam assegurados de forma muito mais célere. Acho que talvez têm falhado no diálogo com a sociedade civil, com as associações, mas isso na sua própria criação - esse processo podia ter sido feito de forma mais participada, com as associações de migrantes", referiu Cyntia de Paula.
No caso dos imigrantes dos países de língua portuguesa, o secretário de Estado das Comunidades anunciou, esta segunda-feira que, a partir de agora, vão existir regras mais exigentes e qualquer imigrante tem de garantir que tem meios de subsistência até arranjar trabalho.
O secretário-geral da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) está preocupado com o apertar de regras e com o clima de anti-imigração na Europa. Também no Fórum TSF, Vitor Ramalho lembrou que "desde o século XVI até hoje, em vários países históricos, a percentagem de estrangeiros, nomeadamente de países africanos, falantes de português, contribuiu de forma totalmente relevante para a cultura, desde logo o fado".
A TSF testemunhou, esta manhã, as dificuldades e as longas filas de espera junto à Agência para a Integração, Migrações e Asilo, em Lisboa.
