Álvaro Sobrinho é um dos rostos do fundo que comprou Global Media. BE pede audição da ERC
O empresário angolano admitiu, numa entrevista à SIC e ao Expresso, que abriu a porta ao WOF para a compra do GMG, após ter sido contactado por José Paulo Fafe e Luís Bernardo. Confessou também ser acionista do fundo, que terá "entre um a 50 subscritores"
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A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, pediu uma audição parlamentar da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) a propósito de uma investigação divulgada na quinta-feira à noite pela SIC e o Expresso, que dá conta de que o banqueiro angolano Álvaro Sobrinho era um dos rostos por trás do World Opportunity Fund (WOF), o fundo que chegou a ser o maior acionista do Global Media Group (GMG).
O Global Media Group era detentor da TSF, Jornal de Notícias ou O Jogo: já o Diário de Notícias é o único jornal que se mantém naquele grupo.
O partido propõe agora que a idoneidade dos acionistas seja verificada antes de adquirirem uma participação num grupo de comunicação social e explica que quer ouvir a ERC “sobre as dificuldades que teve em encontrar acionistas do Global Media”.
Mariana Mortágua alertou por isso para a necessidade de evitar que esta situação se repita e, em reação à investigação da SIC e Expresso, argumenta que Álvaro Sobrinho "é o exemplo de uma pessoa sem idoneidade".
"Se há pessoa sem idoneidade em Portugal é Álvaro Sobrinho. E que Álvaro Sobrinho tenha conseguido, de forma disfarçada, entrar num fundo internacional para ser acionista de um grande grupo de comunicação social, em Portugal, é inaceitável por princípio.
A coordenadora do BE apontou assim que a verificação da idoneidade dos acionistas dos meios de comunicação social "tem de ser feita antes de poderem adquirir uma participação e não depois ou durante".
"Tem de ser feita antes, para prevenir ter criminosos internacionais a adquirir grupos de comunicação em Portugal. Isto é uma questão de proteção básica da democracia e também por isto vamos chamar a ERC à Assembleia da República", explicou, acrescentando que o problema vai além do facto de Álvaro Sobrinho ser um dos rostos do fundo.
"A questão é que aquele fundo nunca deveria sequer ter chegado a ser acionista de um grupo de comunicação", sublinhou.
O empresário angolano admitiu, em entrevista à SIC e ao Expresso, que abriu a porta ao WOF, após ter sido contactado por José Paulo Fafe e Luís Bernardo, em nome do GMG. Confessou também ser acionista do fundo, que terá "entre um a 50 subscritores".
Luís Bernardo - que tinha já confessado ao jornal Público que aconselhou Marco Galinha no processo de compra do grupo, em 2020 - também esteve envolvido no processo de compra do grupo alegadamente como consultor.
Já José Paulo Fafe, que chegou a ser ouvido no Parlamento enquanto presidente da comissão executiva do GMG, recusou na altura responder à pergunta da deputada bloquista Joana Mortágua sobre quem teria feito a ponte entre o grupo e o fundo - que acabou por avançar com sete milhões de euros para a compra do GMG e mais três milhões de euros para despesas e salários.
Por seu lado, Mariana Mortágua disparou também críticas ao empresário Marco Galinha, o maior acionista do grupo, acusando-o de ser "o exemplo de uma pessoa sem idoneidade".
"Já sabíamos sobre os problemas de idoneidade de Marco Galinha. Já sabíamos das relações de Marco Galinho à elite 'putinista' e ficamos agora a saber das relações de Marco Galinha com Álvaro Sobrinho e com a elite que esteve ligada ao poder angolano e que, durante anos, usou Portugal como lavandaria do seu dinheiro sujo e do saque que fizeram no BES Angola", atirou.
A identidade de Álvaro Sobrinho como um dos rostos por trás do fundo que está registado nas Bahamas, desde 2016, surge após a ERC ter retirado em março os direitos ao WOF, que detinha a maioria de capital por via indireta no GMG. Sobrinho foi pronunciado em julho para ser julgado no processo do BES Angola, juntamente com o antigo presidente do BES Ricardo Salgado e os ex-administradores Amílcar Morais Pires, Rui Silveira e Helder Bataglia.
O ex-banqueiro angolano é acusado de 18 crimes de abuso de confiança e cinco de branqueamento, sendo suspeito de se ter apropriado indevidamente de centenas de milhões de euros, num caso cujos factos terão ocorrido entre 2007 e julho de 2014.
