Uma "guerra híbrida" no Líbano? "Estados têm de continuar a investir e mostrar capacidade de atuação perante qualquer tipo de ameaça"
Em entrevista à TSF, a secretária de Estado da Defesa, Ana Isabel Xavier, garante que Portugal está a "preparar-se" para um cenário "cada vez mais imprevisível e híbrido", nomeadamente investindo 2% do PIB em defesa, até 2029
Corpo do artigo
Uma onda de explosões de "pagers" e "walkie-talkies" no Líbano marcou a semana no Médio Oriente. Mais de 30 pessoas morreram num ataque que não foi reconhecido por Israel, embora a comunidade internacional acuse Telavive da autoria desta operação. Há até quem defenda que se está perante uma nova forma de fazer guerra e, por isso, os Estados, nomeadamente o português, têm de continuar a investir na capacitação tecnológica das Forças Armadas para prevenir este tipo de ataques. É esta a opinião da secretária de Estado da Defesa Nacional, Ana Isabel Xavier. Entrevistada pela TSF, defende que a aposta na investigação através de mais investimento é a única forma dos serviços secretos e inteligência militar responderem às novas armas e novas formas de levar a cabo "guerras híbridas", que estão à frente daquilo que é feito convencionalmente pelos Exércitos.
"Os Estados têm de estar preparados para continuar a investir nas suas capacidades, para poderem mostrar a capacidade e a resiliência de atuarem nos diferentes domínios operacionais e perante qualquer tipo de ameaça", explica à TSF Ana Isabel Xavier. Para a secretária de Estado da Defesa, é fundamental "percebermos que há uma simultaneidade entre ameaças convencionais e não convencionais, entre a necessidade de resposta convencional e não convencional".
"Voltamos a ter uma série de atores não estatais que reivindicam também essa capacidade de resposta híbrida. Portanto, perante isso, só há uma forma: é a dos Estados se capacitarem e capacitarem as suas Forças Armadas através de investimento em tecnologia, mas também naquilo que é a investigação e no pessoal, nos seus militares, para poderem estar preparados para qualquer cenário e que, neste momento, nós percebemos que é um cenário cada vez imprevisível e cada vez mais híbrido", considera.
Questionada sobre se Portugal está a preparar-se para esse caminho, Ana Isabel Xavier responde de forma positiva: "Até 2029 vamos chegar aos 2% do PIB e para chegar aos 2% do PIB estamos a investir em três pilares: nas pessoas, nas capacidades e, claro, também numa dimensão de tecnologia e investigação."
"Isto significa também estarmos não só a investir do ponto de vista financeiro anualmente, de forma faseada para chegarmos aos 2% do PIB (dados de 2023 mostram-nos que Portugal se cifra mais ou menos nos 1,4% de investimento do PIB em defesa), portanto, nós queremos reforçar esse número, mas, sobretudo, queremos, reforçá-lo com maior dignificação das Forças Armadas e o último Conselho de Ministros sobre Defesa Nacional foi muito claro em relação a essa matéria: não só os militares que estão no ativo, mas o recrutamento e a retenção, e também várias medidas em relação aos antigos combatentes", sublinha.
Ana Isabel Xavier alerta para a importância de a lei de programação militar ser atualizada para uma "maior capacidade nos três ramos das Forças Armadas". "Depois investir na tecnologia e na investigação e também o apoio das universidades e dos centros de investigação é importantíssimo, porque isso significa termos aqui uma sinergia entre Forças Armadas, as autoridades governamentais, mas, sobretudo, o interface com as universidades e com as empresas", acrescenta.