Associações de pais repudiam declarações do Chega: "Narrativa de ódio só alimenta situações que esperemos que nunca aconteçam"
À TSF, Hugo Evangelista, promotor da carta aberta, diz que as associações de pais visam repudiar "um discurso xenófobo" e que "a escola deve ser um lugar seguro, um lugar confortável de aprendizagem e a brincadeira" para as crianças
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Quase uma dezena de associações de país de escolas do centro de Lisboa lançaram uma carta aberta para repudiar as declarações do Chega, depois de André Ventura ter revelado no Parlamento uma lista de nomes de crianças estrangeiras para demonstrar que o sistema de ensino português tinha muitos estudantes imigrantes. O líder do chega não foi interrompido nem alvo de qualquer reparo. Nas redes sociais, o partido divulgou também o nome e o apelido desses alunos estrangeiros.
Várias associações de pais dirigiram uma carta ao Presidente da República, ao presidente da Assembleia da República, aos partidos com assento parlamentar e presidente da Câmara Municipal de Lisboa a dizer que as declarações do Chega são xenófobas e expõem menores de forma indevida.
A iniciativa partiu da Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Básica Arquitecto Victor Palla. Hugo Evangelista, da associação, diz que as declarações do Chega não passam de uma narrativa de ódio.
"Declarações querendo uma diferença, uma divisão, entre as crianças deles que estariam a passar à frente das nossas crianças. Um discurso xenófobo e que nós nos juntámos para repudiar. Estamos a falar de pessoas que trabalham em Lisboa, que vivem em Lisboa e os seus filhos vivem em Lisboa e brincam em Lisboa, se calhar não conhecem outro país que não Portugal. E, portanto, esta diferenciação entre eles e nós parece-nos absolutamente incorreta e contra os princípios e as liberdades que as crianças devem ter", disse Hugo Evangelista à TSF.
Os estabelecimentos de ensino devem priorizar o bem-estar das crianças: "Além da questão da própria divulgação dos nomes, que também obviamente não devia ter sido feita e que põe um alvo nestas crianças, a escola deve ser um lugar seguro, um lugar confortável de aprendizagem e a brincadeira. E esta narrativa de ódio só alimenta possíveis situações que esperemos que nunca aconteçam."
Depois de a Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Básica Arquitecto Victor Palla ter escrito a carta aberta, outros grupos de pais de outras escolas de Lisboa juntaram-se à iniciativa.
"São todas com os jardins de infância, exatamente porque quisemos dar uma resposta a este argumento que nos jardins de infância estariam só a entrar pessoas de outras origens, de outros países. Todas as associações, das sete que subscreveram esta carta e que o fazem em conjunto, têm jardins de infância, conhecem a realidade das suas escolas, sabem a importância do ambiente multicultural e sabem que não é discriminando e apontando o dedo com ódio contra crianças que se resolve esta oferta pública de jardim de infância", explica Hugo Evangelista.
Além da carta aberta, as associações de pais estão a ponderar fazer queixa à Comissão Nacional de Proteção de Dados e às Comissões de Proteção de Crianças e Jovens.
