Salvador Illa ganha as eleições na Catalunha e acaba com a hegemonia independentista
O candidato socialista conseguiu 42 deputados e pôs um ponto final na maioria do bloco de partidos independentistas na região.
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Salvador Illa pediu o início de um tempo novo e os catalães ouviram-no. O socialista ganhou as eleições com mais de 870.000 votos, conseguiu 42 deputados, mais nove do que em 2021, e viu o bloco dos partidos independentistas perder a maioria pela primeira vez em 14 anos.
No final da noite eleitoral, Illa agradeceu aos catalães: “Os e as catalãs decidiram que corresponde à minha formação, ao PSC, liderar esta nova etapa e eu anuncio-lhes que assumo esta responsabilidade e manifestarei a minha vontade de apresentar a minha candidatura para presidir a Generalitat da Cataluña.”
O líder socialista assumia, assim, a sua intenção de se apresentar à investidura, mas para que a vitória não deixe um sabor amargo, Illa precisa de chegar a acordo com os partidos de esquerda e juntar os deputados do Esquerda Republicana e do Sumar, de forma a conseguir governar. Um cenário que não se prevê fácil, face às declarações do líder do ERC, Pere Aragonés, logo após o final do escrutínio.
O ex-presidente da Generalitat assumiu os “maus resultados” conseguidos pela formação, mas demarcou-se de qualquer acordo de Governo, garantindo que o partido “vai assumir a vontade da cidadania” e “ trabalhar para continuar com o nosso projeto político”, a partir “do lugar que a cidadania decidiu dar-nos: a oposição”
O ERC foi, de resto, o partido independentista mais castigado nas urnas: perdeu 13 deputados em relação a 2021 e ainda viu o Junts x Catalunya somar mais três do que nas passadas eleições e posicionar-se como líder das formações independentistas.
Carles Puigdemont ganhou o seu duelo particular sobre o domínio dentro do independentismo, mas os números dificilmente darão para algo mais. No final da noite, o líder do Junts ainda insinuou que ele pode ser o presidente, uma vez “que a distância que separa o PSC do Junts é a mesma que separa o PSOE do PP no Parlamento espanhol”. Uma equação que só ele parece fazer, mas que serve para pressionar também o ERC: “Se eles quiseres reconstruir pontes, nós também queremos.”
As próximas semanas serão decisivas para descobrir se as negociações se encaminham a um governo socialista, ou se o bloqueio leva Catalunha a uma repetição eleitoral. A chave está na decisão do ERC e, se bem parece pouco provável uma aliança de governo com o PSC, os independentistas poderiam investir Salvador Illa com seu voto, apoiando o partido socialista, mas fora do Governo.
Recorde-se que estas eleições antecipadas foram provocadas pela ruptura do acordo de Governo entre o Junts x Catalnuya e o ERC que levou à não aprovação do orçamento da Comunidade. Nesse momento foi o PSC a estender a mão ao ERC, com quem fez um pacto para o orçamento que, finalmente, acabou por não ser aprovado no Parlamento.
A dicotomia em que vive o ERC não tem solução fácil. Por um lado, a proximidade ao PSOE nacional e ao PSC parece ter castigado os republicanos nas urnas e, por isso, apoiar a investidura de Salvador Illa poderia ter um custo adicional. Mas, por outro, a falta de apoio ao socialista poderia significar a repetição eleitoral que também poderia ser motivo de castigo numa nova ida às urnas.
Vitória de Pedro Sánchez
Outro dos vencedores da noite foi Pedro Sánchez. O líder socialista muito contestado pela oposição pelas medidas que tem posto em marcha desde que chegou ao Governo de Espanha – como os indultos aos líderes do processo independentista catalão, ou, de forma mais recente, a amnistia – viu a sua política validada pelas urnas.
“A partir de hoje abre-se uma nova etapa na Catalunha, para melhorar a vida da cidadania, ampliar direitos e reforçar a convivência”, escreveu o presidente de Governo na rede social X. Já antes, durante o discurso do vencedor, Illa tinha agradecido a Pedro Sánchez “as políticas seguidas pelo Governo em relação a Catalunha”.
Pela primeira vez, o Partido Socialista Catalão venceu as eleições em número de votos e número de deputados e, mais importante, conseguiu acabar com a hegemonia independentista e enterrar o processo secessionista catalão. A última década foi marcada pelas tentativa unilateral de independência, que teve o momento culminante no referendo de autodeterminação de 1 de Outubro de 2017, e todas as consequências que daí derivaram: a detenção, julgamento e condenação de todos os líderes políticos do processo e a fuga de Carles Puigdemont.
Estes resultados marcam um ponto de viragem na sociedade catalã, que parece disposta a fechar o capítulo do independentismo. E, no meio das críticas da oposição, que o acusou de abrir caminho aos secessionistas, ceder às suas chantagens e quebrar Espanha, as decisões de Pedro Sánchez revelaram ser úteis para a própria direita.
O Partido Popular foi outro dos vencedores da noite, ao passar de três para 15 deputados, devido ao desaparecimento do Ciudadanos do Parlamento catalão.
Outra das notícias da noite é a entrada no Parlamento da Catalunha da força de extrema direita independentista Aliança Catalã. Liderada por Silvia Orriols, a formação ultra conseguiu dois deputados.
Notícia atualizada no dia 13 de maio às 07h10
