Associação diz que há "questões mais importantes" do que lojas de souvenirs. Câmara do Porto fala em "demagogia"
O líder da Associação Comercial do Porto defende, na TSF, que o aumento das lojas de recordações na cidade é um resultado do "mercado a funcionar"
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O presidente da Associação Comercial do Porto defendeu esta quarta-feira que Rui Moreira devia estar mais preocupado com os problemas na mobilidade, segurança e tratamento de lixo, que são "absolutamente importantes", e menos com as lojas de souvenirs que se multiplicaram pela cidade. Em resposta, o vice-presidente da autarquia diz que estas afirmações "revelam algum desconhecimento" e, até mesmo, "demagogia".
Em causa está o alerta deixado na semana passada pelo autarca do Porto sobre o crescente número de estabelecimentos que vendem recordações que abriram no centro da cidade. Rui Moreira quer que se investigue de que forma essas lojas conseguem pagar as rendas dos espaços que ocupam.
O líder da associação, defende, em declarações à TSF, que o autarca poderia estar mais concentrado em resolver problemas de trânsito, de segurança e de recolha de lixo e explica que a proliferação de lojas de recordações é "o mercado a funcionar", ainda que sublinhe que a questão não deva ser ignorada.
"Compreendo a preocupação perfeitamente, mas acho que há outras questões que me parecem tão ou mais importantes que essa. A questão, por exemplo, da segurança na cidade ou insegurança. A questão da mobilidade: a cidade do Porto é hoje uma cidade onde não se consegue circular. A questão da limpeza urbana, que é feita hoje nos horários mais absurdos que se pode imaginar, quando é feita. Quando, por exemplo, percorremos a cidade ao fim de semana e vemos os contentores completamente cheios, esquecendo que, por exemplo, a necessidade absoluta de limpeza urbana também é ao fim de semana, com os hotéis cheios, os museus cheios e eventos a realizarem-se. Há um sem número de outras questões que também me parecem absolutamente importantes e fundamentais", denuncia.
Sem querer adiantar o que poderá estar por trás dos negócios das lojas de recordações, o presidente da Associação Comercial do Porto partilha das suspeitas levantadas por Rui Moreira e acreditar estar a passar-se "algo muito estranho".
"Não tenho como provar, portanto, estou neste momento no campo da especulação. Mas alegadamente parece existir algo muito estranho numa loja que vende postais e ímans e pode pagar rendas absolutamente astronómicas. Portanto, que negócios há por trás destas lojas? É a pergunta que fica no ar. Foi a pergunta que o presidente da Câmara fez e eu, desse ponto de vista, estou de acordo com ele", atira, sem querer aprofundar o tema "de forma irresponsável".
Para que os municípios possam regular o comércio, Nuno Botelho concorda que sejam feitas alterações ao licenciamento zero, como foi pedido por Rui Moreira ao Governo. No entanto, o presidente da Associação Comercial do Porto insiste que o autarca deveria estar tanto ou mais preocupado com outros problemas.
O vice-presidente da câmara do Porto, Filipe Araújo, acusa, por outro lado, o presidente da Associação Comercial do Porto de ter um discurso demagógico. À TSF, o número dois de Rui Moreira diz que a cidade é "um exemplo" em termos da gestão da recolha de lixo e atira as culpas para cima do Governo, a quem atribui a "responsabilidade" das questões da mobilidade e da segurança.
"As declarações do doutor Nuno Botelho revelam algum desconhecimento daquilo que se está a passar na cidade. Eu diria mesmo que a Associação Comercial até fez um estudo há uns anos sobre a VCI e identificou os problemas, nomeadamente as portagens da CREP, e de lá para cá o doutor Nuno do Telho nada mais disse sobre o assunto e nem o ouço falar dos impactos dos atrasos da Metro e agora, com alguma demagogia, diz que a Câmara tem de se preocupar com esses temas", atira, assegurando que o executivo camarário "nunca deixou de se preocupar sobre este assunto".
Sobre a recolha do lixe, o vice-presidente destaca que a cidade tem recebido prémios devido à boa gestão deste problema, pelo que considera que o Porto é "um exemplo" a esse nível.
A autarquia defende ainda que o atraso nas obras da Metro do Porto estão a condicionar o trânsito na cidade. O presidente da Câmara, Rui Moreira, pediu esta semana à Metro do Porto para "não mentir" aos munícipes em relação aos prazos e às consequências da empreitada, uma crítica que é também sublinhada por Filipe Araújo.
"Nós sabemos que há um défice de comunicação por parte da Metro que claramente tem apontado diversas datas para a conclusão de diversas frentes de obra que não têm sido cumpridas e sobre o qual aquilo que dizemos é que a população deveria ter, até de uma lógica de maior transparência, sido informada das razões que podem ter-se justificado e isso não tem acontecido ao longo destes anos da obra", lamenta.
