Reino Unido: 46 milhões de eleitores escolhem novo Governo. Trabalhistas podem alcançar resultado histórico
As urnas fecham às 22h00. O maior partido da oposição manteve uma vantagem de cerca de 20 pontos percentuais nas intenções de voto nos últimos meses e as últimas sondagens reiteraram a previsão de uma maioria absoluta histórica
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As eleições legislativas desta quinta-feira no Reino Unido têm como favorito o Partido Trabalhista, que poderão alcançar um resultado histórico e acabar com 14 anos do Partido Conservador no poder.
O maior partido da oposição manteve uma vantagem de cerca de 20 pontos percentuais nas intenções de voto nos últimos meses e as últimas sondagens reiteraram a previsão de uma maioria absoluta histórica.
Os conservadores liderados pelo primeiro-ministro, Rishi Sunak, arriscam sofrer uma derrota ampla, da qual os Liberais Democratas também esperam beneficiar.
Quarenta e seis milhões de britânicos vão escolher um novo Governo. As últimas sondagens apontam para uma vitória esmagadora do Partido Trabalhista. Eunice Goes, professora catedrática de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais e Humanidades da Universidade de Richmond, em Londres, fala mesmo numa clara maioria absoluta dos trabalhistas nas eleições desta quinta-feira.
"Vai ser uma maioria absoluta e vai ser uma maioria esmagadora, pelo que as sondagens e quase todas as sondagens têm sido conduzidas nas últimas 5 ou 6 semanas de campanha eleitoral apontam para uma vitória esmagadora do Partido Trabalhista, onde poderão ganhar até 485 assentos parlamentares, o que é um recorde histórico. Não há, aliás, nenhum partido que tenha conseguido eleger tantos deputados. Evidentemente isto é uma projeção, e é uma projeção que será bastante superior àquela alcançada pelo New Labour em 1997, mas dará uma maioria extremamente confortável a um governo liderado por Keir Starmer", explica à TSF Eunice Goes.
Entrevistada para o programa Mapa Mundo, da TSF, Eunice Goes acrescenta que os trabalhistas podem fazer história nestas eleições, mas herdam um país em profunda crise social e económica.
"As listas de espera para atender ao Serviço Nacional de Saúde são brutais, temos muitas autarquias à beira da bancarrota, temos também um sistema de educação que também está a gritar por investimento, tetos de escolas a desabar, para não falar na crise de recrutamento de professores para as escolas secundárias, temos um sistema criminal também em crise profunda, atrasos brutais na justiça, mas também uma situação onde temos as prisões a libertar prisioneiros antes de terminarem as suas sentenças. As prisões estão a rebentar pelas costuras, não têm capacidade para conter tantos prisioneiros. E, além do mais, vamos ter de nos deparar, nos próximos dois meses, com a possível bancarrota das empresas fornecedoras de água, o que significa que o Estado vai ter que intervir para resgatar algumas destas empresas. Portanto, é uma lista de problemas para resolver bastante elevada e é uma lista de problemas também que custa muito dinheiro", afirma.
Também ouvido pela TSF, Julian King, diplomata britânico e membro do Royal United Services Institute, o principal grupo de reflexão sobre defesa e segurança do Reino Unido, diz que os trabalhistas não imaginam outro cenário senão o de uma vitória estrondosa.
"Eles esperam obter uma vitória estrondosa. Penso que tentarão, portanto, basear-se nisso para mostrar que vão ser um governo competente, coerente e fiável e procurarão contrastar a sua situação eleitoral com alguns dos desenvolvimentos noutros países na Europa e mesmo nos Estados Unidos para tentar dar uma imagem de coerência e solidez quando outros têm uma verdadeira turbulência interna", afirma.
O diplomata refere também que, se ganhar, o partido de Keir Starmer vai ter pela frente difíceis desafios internos e uma agenda de política externa com muitos desafios já no imediato.
"Ainda não se definiu completamente a forma como vão gerir o planeamento a longo prazo, ao mesmo tempo que lidam com a agenda de política externa premente e urgente que todos os governos terão de enfrentar, particularmente no Médio Oriente e na Ucrânia, no que se refere à política externa. O início do mandato foi muito bom. Logo após as eleições, realiza-se a Cimeira da NATO, em Washington, e apenas 10 dias depois, disse o primeiro-ministro, presumimos que seja Starmer, será o anfitrião de uma coisa chamada Comunidade Política Europeia", acrescenta.
De acordo com as projeções, o Partido Reformista (Reform UK) poderá ser outro dos vencedores deste escrutínio se conseguir eleger o líder, Nigel Farage, e garantir, pela primeira vez, vários assentos no parlamento.
Apesar das previsões consensuais das empresas de sondagens, a abstenção e os votos dos indecisos deixam espaço para potenciais surpresas.
As mesas eleitorais abrem às 07h00 e encerram às 22h00 em Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte, mas entretanto muitos eleitores já votaram por correspondência.
Em Portugal e noutros países estrangeiros, os cidadãos registados podem optar por votar por correspondência ou por procuração, não existindo a possibilidade de voto presencial nas embaixadas ou consulados britânicos.
A legislação foi alterada em janeiro de 2024, permitindo que todos os britânicos que tenham estado fora do Reino Unido durante mais de 15 anos possam votar.
Ao todo vão ser eleitos 650 deputados para a Câmara dos Comuns, a câmara baixa do parlamento, através de um sistema de maioria simples ("first-past-the-post") em círculos uninominais.
A análise de uma sondagem à boca das urnas comum às principais televisões britânicas será anunciada às 22:00, mas os resultados concretos só serão conhecidos ao longo da noite e madrugada.
Um partido pode formar governo se conseguir uma maioria absoluta de 326 assentos, e se ficar aquém terá de negociar com outros partidos um acordo de apoio parlamentar ou formar uma coligação.
No caso de maioria absoluta, o líder do respetivo partido será encarregado pelo Rei, Carlos III, de formar governo, já na sexta-feira .
As eleições legislativas foram convocadas a 22 de maio por Rishi Sunak, surpreendendo políticos e analistas que esperavam que só se realizassem no final do ano.
