"Fácil de controlar desde que haja medidas de controlo." Surto de hepatite A em Setúbal infeta pelo menos 20 pessoas

Foi detetado um surto de hepatite A em Setúbal. A informação é avançada, esta quarta-feira, pelo Jornal de Notícias (JN), que acrescenta que há registo de pelo menos 20 pessoas infetadas, a maioria adolescentes. Uma jovem de 12 anos ficou em estado grave, esteve internada na unidade de cuidados intensivos do Hospital Santa Maria, em Lisboa, mas, neste momento, está estável.

Mais de cem pessoas já foram vacinadas e para esta quarta-feira está agendada uma nova campanha para a qual foram chamadas 50 pessoas. As campanhas decorrerem junto de jovens de várias escolas que tiveram contacto com infetados.

Em declarações à TSF, Bernardo Gomes, presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública, lembra que a doença é altamente contagiosa, mas se forem tomadas medidas preventivas, é possível controlá-la.

"A vacinação para a hepatite A não está incluída naquilo que são as vacinações habituais no programa nacional de vacinação, portanto a nossa imunidade populacional para hepatite A não é grande coisa, nomeadamente em pessoas que nasceram a partir do meio da década de 1980", explica à TSF Bernardo Gomes, referindo que, para viagens fora de Portugal, nomeadamente, para destinos que "tenham algum risco infecioso", é "aconselhável fazer a vacinação para hepatite A, entre outras".

"É um risco relativamente fácil de controlar desde que as pessoas e as comunidades em causa adiram a medidas de controlo", sublinha.

Também ouvido pela TSF, o infeciologista Fernando Maltez adianta que não há caso para alarme, mas, ainda assim, deixa alguns conselhos.

"Particularmente na região onde estão a ser detetados estes casos é importante que as pessoas tomem cautelas relativamente à forma como este vírus pode ser adquirido. Muito cuidado com aquilo que comem, muito cuidado com a água que bebem. Ou seja, medidas de higiene alimentar de forma a que não possam adquirir ou não venham a contrair a infeção."

O especialista explica que "o período de incubação deste vírus pode ir aí até um mês, e, em casos menos frequentes, pode até aos 50 dias". Apesar de ser uma doença muito contagiosa, Fernando Maltez sublinha que a mortalidade é baixa, ocorrendo em "menos de um por cento dos casos". 

"A mortalidade na globalidade dos quadros de hepatite não vai além dos 0,7 ou 0,8%. Pode ir um bocado mais acima do 1% em casos acima dos 50 anos. Neste caso, estamos a falar numa epidemia que está a ocorrer em adolescentes e, habitualmente, o quadro é muito benigno", acrescenta.

O JN adianta ainda que o surto em Setúbal teve origem em casos registados no Algarve. Entre agosto e novembro do ano passado tinham sido detetados 25 casos. 

Sem adiantar o número de casos registados, a Unidade de Saúde Pública da Unidade Local de Saúde da Arrábida (ULSA) confirma à TSF que a maioria dos casos são adolescentes com uma média de idade de 12 anos. Foi identificado, até agora, um caso mais grave que permanece internado.

Em resposta enviada à TSF, a ULSA afirma que está a acompanhar o aumento de casos de hepatite A, no concelho de Setúbal, reforçando as medidas de saúde pública. "Até à data, não foi estabelecida associação com o eventual consumo de alimentos específicos ou água contaminada", lê-se na nota.

A ULSA acrescenta que as autoridade de saúde, em articulação com o hospital, iniciaram uma campanha de vacinação no âmbito de pós-exposição para crianças elegíveis em contexto escolar, nas instalações da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de São Sebastião. Além dessa campanha, está agendada para esta quarta-feira "uma segunda sessão vacinal em contexto comunitário".

Paralelamente, estão a ser divulgadas medidas de prevenção à comunidade educativa envolvida e organizadas sessões de esclarecimento, destinadas aos encarregados de educação. Foi também solicitada a colaboração de entidades externas de apoio social.

A hepatite A é um vírus altamente contagioso que provoca uma infeção aguda no fígado.