"Crise poderá ser inevitável." Montenegro desafia, PCP responde com censura e PS não quer moções
O primeiro-ministro deixou um desafio aos partidos políticos da oposição, esta noite, para esclarecerem se consideram que o Governo "dispõe de condições para continuar a executar" o seu programa, admitindo uma moção de confiança. O PCP já confirmou que vai avançar com uma moção de censura e o PS não quer moções
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A porta-voz do PAN afirmou que dificilmente acompanhará uma moção de confiança apresentada pelo Governo, argumentando que o primeiro-ministro não prestou todos os esclarecimentos que deveria ter dado.
A porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, argumentou que não é possível “dissociar uma moção de confiança apresentada pelo Governo da sua política de recuo”, por exemplo, em matéria ambiental, direitos dos animais e proteção de crianças e jovens LGBT.
Montenegro sublinha a exposição pública atual da sua família, afirmando: "Escolhi ser primeiro-ministro, mas não vale tudo." O primeiro-ministro revelou que a empresa da família "passa a ser gerida apenas pelos filhos" e vai "mudar de sede".
Luís Montenegro já fala ao país em São Bento, com a presença do Governo em peso. Começa por recordar o debate parlamentar de há uma semana e o chumbo da moção de censura do Chega ao Governo. Acrescenta que deu todos as explicações, mas refere também: "As explicações nunca serão suficientes. Este é um ciclo vicioso."
"Não pratiquei nenhum crime, nem cometi nenhum erro técnico", afirmou.
O líder do PS, Pedro Nuno Santos, reagiu esta noite à declaração do primeiro-ministro, Luís Montenegro, afirmando que o PS não vai viabilizar qualquer moção, nem de confiança, nem de censura ao Governo.
Pedro Nuno considera que só Montenegro pode assumir o seu futuro político e que não deve passar essa responsabilidade para mais ninguém, muito menos para o Parlamento.
Após a declaração desta noite de Luís Montenegro, em reação, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, afirmou que o PCP "vai apresentar uma moção de censura ao Governo na próxima semana".
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Luís Montegro admitiu que "a crise política deve ser evitada, mas poderá ser inevitável", desafiando os partidos políticos da oposição a esclarecerem se consideram que o Governo "dispõe de condições para continuar a executar" o seu programa ou, pelo contrário, a avançarem com uma moção de censura. Por outro lado, o primeiro-ministro admitiu também avançar com uma eventual moção de confiança ao Executivo.
"Em termos políticos e governativos, insto daqui os partidos políticos, representados na Assembleia da República, a declarar sem tibiezas se consideram, depois de tudo o que já foi dito e conhecido, que o Governo dispõe de condições para continuar a executar o programa do Governo, como resultou há uma semana da votação da moção de censura", declarou Luís Montenegro, na residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento.
O primeiro-ministro afirmou que, "sem essa resposta, a clarificação política exigirá a confirmação dessas condições no Parlamento, o que, por iniciativa do Governo, só pode acontecer com a apresentação de uma moção de confiança".
A coordenadora do Bloco de Esquerda afirmou que o primeiro-ministro confessou incompatibilidades ao passar a gestão da empresa familiar Spinumviva para os filhos e garantiu que o Bloco votará contra uma eventual moção de confiança apresentada pelo Governo.
"A venda da empresa e o facto de ter admitido e ter decidido vender a sua empresa é, em si, uma confissão das incompatibilidades. E essa foi a única informação que conseguimos retirar desta declaração à imprensa, sem muito mais informações, sem muito mais esclarecimentos, sem responder a perguntas", disse Mariana Mortágua aos jornalistas.
O presidente da IL considerou que a decisão do primeiro-ministro de passar a empresa familiar aos filhos "não apaga a mancha", nem acaba com as dúvidas, mas disse que dificilmente concordará com os fundamentos de uma moção de censura do PCP.
Rui Rocha afirmou que Luís Montenegro "não compreendeu ainda a gravidade" da situação em que se envolveu: "não é aceitável que um primeiro-ministro receba avenças enquanto está a desempenhar funções" de chefe do Governo.
O presidente do Chega anunciou que o partido votará contra uma eventual moção de confiança que seja apresentada pelo Governo, argumentando que o primeiro-ministro "não respondeu a nenhuma das questões fundamentais".
Em declarações aos jornalistas na sede do partido, em Lisboa, André Ventura afirmou que, embora não tenha reunido com os órgãos do partido, é "consensual e incontornável o sentimento de que é impossível viabilizar a confiança de um primeiro-ministro com este grau de suspeição sobre si próprio".
O porta-voz do Livre Rui Tavares disse não ter confiança institucional e política no primeiro-ministro e pediu que o Presidente da República avalie "o normal funcionamento das instituições".
Rui Tavares afirmou que o país está hoje "de novo mergulhado numa crise política" por "exclusiva e única responsabilidade do primeiro-ministro e da sua imprevidência pessoal, falta de clareza, falta de transparência na gestão de conflitos de interesse".
O primeiro-ministro faz este sábado uma comunicação ao país para anunciar as suas “decisões pessoais e políticas” após ter sido revelado que a empresa detida pela sua mulher e filhos recebe uma avença mensal de 4500 euros do grupo Solverde.
Montenegro decidiu convocar o Conselho de Ministros na sexta-feira de manhã, depois de o jornal Expresso ter noticiado que o grupo de casinos e hotéis Solverde, sediado em Espinho, paga à empresa detida pela sua mulher e os filhos, a Spinumviva, uma avença mensal de 4500 euros desde julho de 2021, por “serviços especializados de ‘compliance’ e definição de procedimentos no domínio da proteção de dados pessoais”.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, esteve reunido para um encontro político dos sociais-democratas, na tarde deste sábado, em São Bento, juntando vários governantes e vice-presidentes do partido. Agora, pouco antes das 19h30, com uma hora e meia de atraso, Montenegro juntou então o Conselho de Ministros, na antecâmara da declaração ao país que tinha agendado para as 20h00 deste sábado.
