Médio Oriente. "A História mostra-nos que a paz entre estes dois povos nunca será possível"
Em declarações à TSF, o vice-presidente do Observatório do Mundo Islâmico considera que um possível acordo de cessar-fogo pode não significar "paz definitiva" entre israelitas e palestinianos
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O Médio Oriente vive, nesta altura, um impasse. Israelitas e palestinianos tinham alcançado um acordo de tréguas, na quarta-feira, no Catar, mas menos de 24 horas depois, Benjamin Netanyahu acusou o Hamas de criar uma "crise de última hora" e suspendeu a reunião que tinha como objetivo a aprovação do cessar-fogo. Especialistas, ouvidos pela TSF, falam num "mau começo" que tem "muito jogo político" envolvido, destacando que, mesmo que haja um entendimento para o fim das hostilidades, não significa que os povos vivam em paz.
Em declarações à TSF, o vice-presidente do Observatório do Mundo Islâmico, João Henriques, recorda que a História mostra que "a paz entre os dois povos nunca será possível".
"Eu não acredito que [o acordo de cessar-fogo] seja uma porta para a paz definitiva, até porque a solução dos dois Estados tem vindo a ganhar alguma força junto da opinião internacional. Todavia, tenho uma leitura pessimista relativamente a uma sã convivência entre dois povos que historicamente se digladiam", afirma.
Também ouvido pela TSF, o especialista em risco geopolítico Jorge Rodrigues considera que a suspensão da reunião do Governo israelita para aprovar o acordo de cessar-fogo pode significar um passo atrás. O também professor da Porto Business School aponta as pressões internas no Executivo de Israel e a desconfiança de ambos os lados como possíveis razões para o adiamento da votação.
"Não é definitivo, no entanto, deixa já um mau começo", refere Jorge Rodrigues, indicando duas razões para o adiamento da reunião.
"A pressão que os ministros acabam por exercer sobre Netanyahu, há muito jogo político neste tipo de processos. Depois, o ajuste da entrada em vigor do acordo já vinha sendo evidente com a continuação de ações de parte a parte e a demonstração de pouca confiança e vontade de cumprir", sublinha o especialista.
A reunião do Governo de Israel para aprovar o acordo de cessar-fogo, que estava marcada para as 11h00 locais (09h00 em Lisboa) desta quinta-feira, foi adiada. Benjamin Netanyahu acusou o Hamas de criar uma "crise de última hora", depois de, alegadamente, ter tentado alterar pormenores do projeto de cessar-fogo anunciado na quinta-feira pelo Catar.
Segundo o gabinete do primeiro-ministro israelita, a reunião só será retomada quando os mediadores notificarem Israel de que o Hamas aceitou todos os elementos do acordo.
Um alto funcionário do Hamas negou, entretanto, as acusações israelitas e garantiu que o movimento está "comprometido" com as condições impostas para um cessar-fogo na Faixa de Gaza.
O acordo alcançado entre Israel e o Hamas prevê um cessar-fogo completo durante 42 dias a partir de domingo, após 15 meses de uma guerra devastadora, e a troca de 33 reféns israelitas por centenas de prisioneiros palestinianos.