Pedro Nuno quer ver Orçamento, mas "tem tempo" para decidir voto. Centeno é presidenciável, mas Seguro também
O secretário-geral do PS fala em "derrota" do Governo no IRS Jovem. Critica "faz de conta" com recuo no IRC
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Na véspera da entrega do Orçamento do Estado e a 21 dias da votação do documento, na fase de generalidade, Pedro Nuno Santos considera que “ainda há tempo” para que o PS tome uma decisão quanto ao sentido de voto. Certo é que não houve acordo com o Governo, e o secretário-geral socialista quer ver a proposta orçamental antes de tomar uma decisão.
Cerca de 24 horas depois da entrevista de Luís Montenegro, também Pedro Nuno Santos posou para as câmaras de televisão, desta vez, na TVI/CNN Portugal, adiantando logo à partida que ainda “não é o momento” para revelar o sentido de voto. A decisão será tomada nas próximas semanas e, depois, anunciada à comissão política nacional do PS.
“Há aqui um trabalho agora para fazer que nós não achávamos que era necessário porque nós disponibilizámo-nos para uma negociação e se ela tivesse chegado a bom porto estaríamos num ponto diferente hoje. Como nós não conseguimos chegar a acordo, resta esperar pela apresentação do Orçamento do Estado, conhecer o Orçamento do Estado, avaliá-lo e depois então decidir em Comissão Política Nacional”, disse.
Por enquanto, a vontade de Pedro Nuno Santos “depende, desde logo, de conhecer o Orçamento do Estado”, assumindo que, embora tenham existido cedências do Governo, também o PS cedeu nas duas linhas vermelhas que impôs para a negociação: no IRC e no IRS Jovem.
Pedro Nuno Santos considera que o Governo “foi derrotado” no IRS Jovem e abandonou uma “má medida”, embora admita que não se revê totalmente na proposta que o Executivo vai apresentar: um benefício de dez anos e não de sete, como queria o PS. Já sobre a descida do IRC, o socialista acusa o Executivo de “fazer de conta” que houve cedências.
“Tiro o meu chapéu ao Governo e à capacidade que tem de fazer de conta que houve uma cedência. Passou pela cabeça de alguém que pudesse haver um Orçamento do Estado viabilizado pelo PS com uma redução do IRC até 17%?”, questionou.
O Governo compromete-se apenas com uma descida de um por cento do imposto sobre as empresas, remetendo para os anos seguintes novas reduções, mas sem um acordo formado com os socialistas, Pedro Nuno Santos admite que “a decisão será tomada de outra forma”, olhando para o documento como um todo.
E, neste ponto, deixou um aviso ao Governo, notando que se a privatização da TAP estiver no Orçamento do Estado, significa que o Governo não quer viabilizar” o documento. O PS de Pedro Nuno Santos está contra a privatização e o socialista antevê que uma possível venda aos privados não passará no Parlamento.
“Toda a gente sabe qual é a posição do PS e do atual secretário-geral no que diz respeito à TAP. E digo até mais, se eu for considerando aquilo que os outros partidos, e se tomar como boa a palavra de outros partidos, como é o caso do Chega, não há privatização da maioria do capital a passar no Parlamento. Não existe”; respondeu.
O voto contra do PS no Orçamento pode abrir caminho ao Chega, que já admite viabilizar o documento, mas Pedro Nuno Santos garante que, seja qual for a decisão, não está dependente de André Ventura: O pior que faríamos, e isso não acontecerá comigo, é o PS definir o seu sentido de voto numa matéria tão importante como o Orçamento, em função do que nós achamos que o Chega pode ou não fazer”.
“Depois há outra dimensão que é muito importante: a bipolarização política em Portugal tem que ser entre o PS e o PSD, quanto muito entre o PS e o resto da direita, mas nomeadamente entre o PS e o PSD. Não é entre o Chega e o PSD/PS. Isso é que seria um péssimo serviço à democracia portuguesa”, alertou.
Centeno? “Bom nome”, mas Pedro Nuno lança António José Seguro a Belém
Depois de Luís Montenegro ter lançado Luís Marques Mendes para a sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa, também Pedro Nuno Santos foi questionado sobre o assunto, com o antigo ministro das Finanças e atual governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, à cabeça. O socialista entende que Centeno “seria um bom nome”, até pela relação de proximidade que criou com os portugueses.
“Mário Centeno, como outros nomes que têm falado da área do PS, é um nome bom, com grande qualidade política, com uma grande relação com as pessoas. Quem privou com Mário Centeno e o acompanhou na rua percebe bem a relação que ele conseguiu construir”, respondeu.
Atirou para cima da mesa, ainda assim, outros nomes da “área socialista”. Primeiro, o de Augusto Santos Silva, que já esteve na rota de Belém, mas também o de António Vitório ou Ana Gomes. A surpresa foi, no entanto, António José Seguro. O antigo secretário-geral do PS, há muito afastado da política, desde a cisão com António Costa, é visto por Pedro Nuno Santos como um bom candidato para o lugar de Marcelo Rebelo de Sousa.