O antigo secretário-geral da UCCLA defende que a Igreja Católica pode moderar um entendimento nas posições políticas extremadas naquele país
Corpo do artigo
A situação de caos que se vive em Moçambique desde há alguns dias, com saques, vandalismo e mortes, poderá ser moderada pela Igreja. A opinião é do antigo secretário-geral da União das Cidades Capitais de Lingua Portuguesa (UCCLA). Em declarações à TSF, Vítor Ramalho sublinha que, nesta altura, após o Tribunal Constitucional ter reconhecido a vitória de Daniel Chapo como Presidente da República de Moçambique, "formaram-se células, maioritariamente de jovens, que atacaram 14 postos policiais em várias regiões, incluindo a própria capital, e nesses postos recolheram armas”, conta.
Vítor Ramalho diz que foi a conivência entre essas várias “células” que levou esta quarta-feira à invasão da cadeia de alta segurança e permitiu a libertação de 1500 presos. “Há uma nova forma de violência que se instalou em Moçambique e que tem por objetivo, a meu ver, paralisar a economia”, sublinha. “Nesta altura, não se trabalha em Moçambique e há assaltos a supermercados e empresas, há um quadro muito, muito complicado”, adianta.
O antigo secretário-geral da UCCLA considera que o facto de Venâncio Mondlane ter abandonado o país não está a ajudar ao apaziguamento dos ânimos. O candidato do partido Podemos reclamou para si a vitória nas eleições presidenciais e tem apelado à resistência da população. Vítor Ramalho considera que as posições estão demasiado extremadas e a “linha da moderação” não tem tido sucesso, visto que esses grupos de jovens só aceitam a vitória de Mondlane. O ex-dirigente da UCCLA conta que há mesmo membros da oposição com um discurso mais moderado que estão a ser agredidos.
Na opinião do antigo secretário-geral da União das Cidades Capitais de língua Portuguesa, a saída para a crise pode estar nas mãos da Igreja, que já no passado teve um papel determinante na paz em Moçambique. ”Quando Moçambique transitou de um regime autocrático para democrático houve uma instituição que teve um papel fundamental: a Igreja Católica, através da comunidade de Santo Egídio”, recorda.
Dentro da Comunidade de Santo Egídio, Vítor Ramalho destaca o cardeal Matteo Zuppi, “uma pessoa com uma imensa experiência em África, não apenas em Moçambique”.
“Penso que era desejável haver uma entidade credível, desta natureza (…) e que ao menos fosse ouvida, porque foi em Santo Egídio, em Roma, que decorreu todo o processo de paz entre a Renamo e o governo de Moçambique”, recorda. Vítor Ramalho considera que é uma hipótese “que deve ser pensada, para ganhar credibilidade no próprio diálogo, visto que [a comunidade de Santo Egídio] já deu provas”, sugere.
Pelo menos 252 pessoas morreram nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique desde 21 de outubro, metade das quais apenas desde o anúncio dos resultados finais, na segunda-feira, segundo novo balanço feito esta quinta-feira pela plataforma eleitoral Decide.