"Conceito de segurança ineficaz e dividido." Antigo secretário-geral adjunto da ONU diz ser "difícil" estar "otimista"
Victor Ângelo lamenta, em declarações à TSF, que o apoio incondicional dos EUA a Israel tenha permitido "discursos extremamente agressivos" na Assembleia Geral das Nações Unidas
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O antigo secretário-geral adjunto da ONU Victor Ângelo considera que é difícil encontrar nesta altura uma solução para o conflito no Médio Oriente, assim como "ser otimista" em relação ao seu desenvolvimento, e lamenta que o mundo esteja a assistir a um "conceito de segurança completamente ineficiente, ineficaz e dividido".
Em declarações à TSF, Victor Ângelo sublinha que este conflito é "problema existe há décadas" e que as Nações Unidas não têm tido a capacidade de resolver, por ser "difícil encontrar um consenso que permita uma solução para esta crise".
"A verdade é que, se olharmos para a situação atual e para o futuro próximo, o que vemos é uma escalada, uma deterioração, um piorar da situação atual, ou seja, é muito difícil neste momento não só pensar em termos de solução, como também ser otimista", confessa.
As operações terrestres levadas a cabo por Israel no Líbano acarretam, na opinião do ex-secretário adjunto da ONU, três problemas graves: "Por um lado, é uma invasão de um país vizinho. Por outro lado, isto pode ter consequências ao nível da população civil bastante grandes, ou seja, pode provocar mortos e feridos ao nível da população civil em grande número. E o terceiro aspeto é que isto pode dar origem a uma guerra na região", alerta.
Victor Ângelo explica ainda que o mundo está a assistir a um "conceito de segurança completamente ineficiente, ineficaz e dividido" e lamenta que o apoio incondicional dos EUA a Israel tenha permitido "discursos extremamente agressivos" na sede da ONU.
"[Israel] tem, pelo menos, um dos membros permanentes 100% a apoiar a posição israelita e, por isso, o primeiro-ministro de Israel sente-se numa situação de força e permite-se dizer coisas na Assembleia Geral das Nações Unidas que normalmente não são ditas nesse tipo de Assembleia - pelo contrário - a Assembleia Geral das Nações Unidas é exatamente o lugar onde se procura promover o diálogo, onde se procura promover soluções que levem à segurança internacional e à paz e não àquele tipo de discursos extremamente agressivos - não só agressivos em relação à ONU, mas também agressivos em relação à comunidade internacional", aponta.
Para o antigo secretário adjunto da ONU fica claro que "enquanto os EUA não compreenderem que, se continuarem a apoiar Israel como estão a apoiar, não haverá paz naquela parte do Médio Oriente".
Victor Ângelo destaca ainda existem "cada vez mais posições extremamente duras de homens e mulheres que querem mostrar que são bastante fortes" e relaciona este fenómeno com o crescimento do "populismo" a que o mundo tem assistido.
