Tânger Corrêa à TSF. Patriotas pela Europa? “Podemos ter opiniões diferentes, mas estamos juntos no essencial”
O eleito pelo Chega afirma que o seu grupo político vai votar contra a eleição de Ursula von der Leyen como presidente da Comissão Europeia
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António Tânger Corrêa, eleito pelo Chega como eurodeputado, considera que na próxima legislatura o Pacto das Migrações e Asilo, o Acordo Verde e a Política Agrícola Comum (PAC) serão temas prioritários na agenda europeia.
O antigo embaixador entende que é necessária uma regulamentação mais rigorosa para as migrações e o reforço dos apoios à agricultura e pescas em Portugal. Também defende a necessidade de “mais clareza” na aplicação dos fundos do PRR, para apoiar “as empresas privadas”.
Sobre a divergência de posições no grupo político que o Chega integra no Parlamento Europeu, os Patriotas pela Europa, relativamente ao apoio à Ucrânia, Tânger Corrêa desvaloriza: “estamos juntos no essencial”.
Deputado António Tânger Corrêa, na perspetiva do Chega, quais são os grandes desafios para os próximos cinco anos no Parlamento Europeu?
Para já, aquilo que se pode ver é o Pacto das Migrações, o Acordo Verde e a PAC. Queremos uma revisão da PAC, a Política Agrícola Comum, e toda a parte orçamental da União Europeia, que tem que ser mais clara e mais próxima dos contribuintes, o que não está a acontecer. Estes são os grandes desafios. Vamos ter outros desafios, obviamente, não diria menores, mas com menos impacto na opinião pública e principalmente para Portugal, que são a execução do PRR e de outras verbas comunitárias. Temos que estar atentos para que não haja desvios desses fundos para outros países, que nos afetem indiretamente.
Porque considera o Pacto das Migrações um desafio? O que deveria ser modificado?
Tem que haver uma regra para as migrações. Não é afastar o pacto de migrações, mas regulamentar de forma diferente, desde o direito ao asilo até à forma como se recebem os imigrantes. Atualmente, parece uma porta aberta, embora não seja. Temos que limitar e regulamentar todo esse fluxo de imigrantes para a Europa em geral e para Portugal em particular, com regras mais restritas. No fundo, aplicar os princípios dos Acordos de Schengen, que estipulam que, para entrar nos países membros, têm que ser cumpridas determinadas regras, e queremos ver essas regras cumpridas, não apenas uma declaração de procura de trabalho ou outra coisa qualquer.
Como se concilia uma política de portas fechadas com uma população envelhecida e a sustentabilidade social das gerações futuras?
Dizer que são os novos imigrantes que sustentam a Segurança Social é uma falácia. Quem realmente contribui são os imigrantes brasileiros, americanos, franceses e europeus de leste. Precisamos de imigração, mas de pessoas que possam integrar-se no mercado de trabalho e contribuir para a sociedade.
Quando falou da Política Agrícola Comum, em que aspetos da estava a pensar?
Defendemos os interesses de Portugal. As reformas agrícolas em Portugal não existem e deveriam existir. O apoio da União Europeia a nível agrícola e das pescas é insuficiente. Somos um país periférico e, com a entrada de mais países a leste, seremos ainda mais periféricos. Temos duas regiões ultraperiféricas, os Açores e a Madeira, e Portugal continental passará a ser ultraperiférico. A nossa indústria do mar e agrícola é crucial para a sobrevivência de Portugal. Alguns projetos agrícolas recebem ajuda, outros não recebem nada.
Nomeadamente...
Nomeadamente, os agricultores do sul de Portugal não recebem nada, enquanto no norte ainda recebem alguma ajuda. No sul, não há apoio nem ajuda técnica para a mudança de culturas, que seria uma boa alternativa. Estão votados ao abandono e os governos vários não têm feito nada por isso. Pelo contrário, como se sabe, as pescas foram abandonadas e não foi pelo Partido Socialista. Já tinham sido antes. Muitas indústrias foram destruídas, como a frota de pesca e mercante. Hoje temos quase uma pesca artesanal, num país com uma das maiores plataformas continentais do mundo.
Está a falar de algum governo em concreto?
Sim, do governo de Cavaco Silva. Claramente. E não parou a produção de vinho em Portugal porque os produtores de vinho se opuseram porque senão, se calhar também tinha ido nesse sentido. Portanto, isto aqui não, não é um juízo político, digamos assim, que eu estou a fazer, mas é um juízo administração do país
Teria havido outra forma de negociar?
Havia a opção de investir na indústria da pesca e agrícola, em vez da cultura do betão, que é cara e, muitas vezes, de duvidosa utilidade. Houve um erro de julgamento.
Na aplicação do PRR, espera que não sejam praticados os mesmos “erros”?
Espero que sim. Há pouca clareza na aplicação dos PRR, e as maiores beneficiárias são empresas públicas. O desenvolvimento das empresas privadas é fundamental para a nossa economia.
Como espera contribuir no Parlamento Europeu para a implementação do PRR?
Ainda é cedo para dizer. Vamos trabalhar a partir de setembro para garantir que os fundos sejam bem aplicados.
Como é que o Chega concilia as diferentes perspetivas dentro do novo grupo político, que afogara integra, os Patriotas da Europa, especialmente sobre o apoio à Ucrânia?
Somos 100% a favor da Ucrânia e contra qualquer cedência territorial à Rússia. Podemos ter opiniões diferentes, mas estamos juntos no essencial.
Admite que isso possa enfraquecer as posições europeias em relação ao apoio a Kiev?
Não. A prioridade é parar a guerra sem prejudicar a Ucrânia territorialmente ou politicamente. Devemos fortalecer a Ucrânia e tentar negociar a paz.
Como vê a perspetiva de Viktor Orban em relação à Ucrânia?
Orban age como Primeiro-Ministro da Hungria, não como presidente do Conselho Europeu. Se ele busca um acordo de paz, é louvável, desde que não implique a perda de território para a Ucrânia.
Sobre as eleições para a presidência do Parlamento Europeu, como se posiciona o Chega?
Ainda não debatemos esse assunto. Vamos discuti-lo em Estrasburgo.
Como vê a possibilidade de Roberta Metsola tentar um novo mandato?
Ainda é cedo para um julgamento aprofundado. A única crítica é a sua proximidade com Von der Leyen, que consideramos negativa. Em relação a Von der Leyen, votamos contra.
Porque votam contra Von der Leyen?
Ela está envolvida em escândalos financeiros e tem uma postura federalista que contraria os nossos princípios soberanistas.
Como vê a ação política de Von der Leyen para que haja integração na área da defesa?
Somos um partido soberanista. Somos a favor do reforço das Forças Armadas de cada país, mas não de um exército europeu. A defesa deve ser nacional e não transnacional.