António José Seguro está "a ponderar". Deixa porta aberta a candidatura a Belém
O antigo secretário-geral do PS é um dos "presidenciáveis" da área socialista. Traça diferenças para Marcelo
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A porta está aberta. António José Seguro admite candidatar-se à presidência da República, depois de Pedro Nuno Santos ter colocado o seu nome num lote de presidenciáveis na área socialista. Dez anos depois, coloca-se em jogo na vida política "sem rancores" com o passado. Traça, desde já, diferenças para Marcelo Rebelo de Sousa, a quem dá nota negativa no segundo mandato.
Em entrevista à CNN Portugal, o antigo secretário-geral do PS adianta que a candidatura a Belém depende "da própria convicção", sem se comprometer com uma data para a decisão. Regressa ao espaço público, com um espaço de comentário televisivo, porque "olha para o país e não gosta do que vê", com "um Estado a abrir fendas e uma sociedade a deslaçar".
"Neste momento, estou a ponderar porque, naturalmente, depois dessas notícias terem vindo a público e da declaração do secretário-geral do Partido Socialista, várias pessoas têm conversado comigo sobre essa hipótese. São pessoas que eu considero, são pessoas que são referências na sociedade portuguesa e que ouço os seus argumentos. Mas a decisão é minha e em conversa com a minha família", respondeu, abrindo o jogo logo à partida.
Qualquer decisão será tomada a seu tempo e será afirmativa se “sentir a convicção que pode servir o país e unir os portugueses numa fase extremamente difícil". António José Seguro quebra o silêncio ao fim de dez anos, sendo esta a primeira entrevista política desde que deixou a liderança do PS, em 2014, altura em que acusou António Costa de traição. Agora, garante, "não guarda rancor".
O sucessor de José Sócrates na liderança socialista não chegou a ser colocado à prova em eleições legislativas (ocupou o lugar em 2011 e deixou-o em 2014), mas está a ponderar ir a votos nas presidenciais. Certo é que o regresso à vida partidária está colocado de parte.
"O que está completamente posto de parte é a vida partidária. Eu olho para a participação e vejo vida pública, vida política e vida partidária. Neste momento, dei um passo no sentido da vida pública, estou a ponderar no sentido da vida política e não tenciono voltar à vida partidária", garantiu.
Marcelo "passaria no primeiro mandato, mas a continuar assim vai ao oral no segundo"
Na "vida política" já traça diferenças para Marcelo Rebelo de Sousa, o inquilino de Belém que pode ceder-lhe o lugar. Admite que, no primeiro mandato, o atual Presidente da República "esteve muito bem", numa relação próxima com os portugueses, mas estragou a pintura a partir de 2021.
Acho que, no segundo mandato, banalizou um pouco a palavra. Teve, a meu ver, o erro de equivaler o chumbo do Orçamento a uma dissolução do Parlamento. Depois teve um aspeto, a colagem ao primeiro governo foi tanta, tanta, tanta que ele parecia um co-primeiro-ministro. E isso retirou espaço ao PSD, que era o principal partido da oposição, em particular a Rui Rio. E numa democracia, nós precisamos de ter governos e precisamos de ter oposição", criticou.
Seguro salienta, por outro lado, que Marcelo “teve um papel muito importante”, durante a pandemia, “falando a uma só voz” em coordenação com o Governo. Feitas as contas, “passaria no primeiro mandato, mas a continuar assim vai ao oral no segundo mandato”. Ou seja, o segundo mandato de Marcelo tem nota negativa para António José Seguro.
O socialista aponta também o dedo à justiça, que “tem de ser mais célere”, questionado sobre a Operação Influencer e o caso que envolve José Sócrates. Seguro alerta ainda que “há muitos portugueses que não confiam nas instituições” e a democracia está com “uma espessura muito fina”. O dever dos “democratas” é “dar contributos para que essa relação de confiança se estabeleça”.