Alemanha vira à direita. Merz, um líder "impulsivo" em busca de uma "coligação estável" para ter "mais visibilidade" na Europa
Os conservadores da CDU, liderados por Friedrich Merz, venceram as eleições com 28,6% dos votos. À TSF, professores e investigadores descrevem quem é o líder da CDU, vencedor das eleições legislativas
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A Alemanha virou à direita. Os conservadores da CDU, liderados por Friedrich Merz, venceram as eleições com 28,6% dos votos e rejeitam qualquer entendimento com o AfD, o partido da extrema-direita que se consagrou como a segunda força, com 20,8%. Já o partido do ainda chanceler alemão caiu para o terceiro lugar. Os sociais-democratas do SPD ficaram com 16%. Olaf Scholz já reconheceu o resultado e fala numa "derrota amarga". Em declarações à TSF, professores e investigadores descrevem Merz como um homem "impulsivo" e "firme", que vai governar "de forma diferente" de Merkel e que tem a ambição de conseguir uma "coligação estável" para "liderar a Alemanha" e ter "mais visibilidade" na Europa".
Alberto Cunha, professor na Escola de Economia e Direito de Berlim, considera que Merz quer ser um líder para a Alemanha e para a Europa, mas, ainda assim, está em aberto no que toca às coligações.
"Merz tem tentado dar várias indicações de que vai governar de forma diferente da senhora Merkel e penso que isso é algo que une todos os analistas e não analistas. A Europa precisa, mais do que nunca, de uma liderança da Alemanha. Ele [Merz] quer dar essa liderança, é uma personalidade talvez um pouco mais abrasiva do que a senhora Merkel. Veremos no que vai dar, veremos o que é permitido na coligação. A principal questão é o que a Alemanha de Merz vai dizer em relação a um potencial acordo sobre a questão da Ucrânia", explica à TSF Alberto Cunha, sublinhando as diferenças entre Merz e Merkel.
"Merz tem criticado direta ou indiretamente a política de imigração da senhora Merkel, que desde 2015 a maior parte do partido tem criticado, assim como a própria opinião pública tem criticado como demasiado permissiva, demasiado aberta nas fronteiras. Economicamente não é tão diferente da senhora Merkel, mas tem insistido muito na necessidade de aumentar a competitividade, diminuir a burocracia e tem tentado reabrir um debate que é sempre difícil na Alemanha sobre a energia nuclear", afirma.
Já a diretora do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, Mónica Dias, também ouvida pela TSF, explica que Friedrich Merz pode tornar-se uma voz forte na Europa e no mundo, caso consiga formar Governo.
"É um homem muito impulsivo. Geralmente, os alemães gostam mais de votar em líderes mais pragmáticos, mais calmos, mais frios. Friedrich Merz tem mais determinação, quer ser um líder mais firme, com mais presença mediática e reclama o seu lugar à mesa das negociações também na Europa. Vai ser um líder certamente mais forte e com mais visibilidade na Europa ao lado de Macron, por exemplo. É também alguém que apoia fortemente a ideia da Europa, europeísta convicto, defende a ligação aos Estados Unidos, obviamente, pré-Trump e opõe-se totalmente a Putin e à Rússia", descreve a especialista, referindo que a falta de memória relativamente ao nazismo, as redes sociais e o contexto internacional contribuíram para o aumento de votos na extrema-direita.
"Temos um ambiente em toda a Europa e também nos Estados Unidos que aposta fortemente em partidos que apresentam soluções muito fáceis, que criam adversários e inimigos, como, por exemplo, neste caso, a imigração. Por outro lado, também a utilização das novas tecnologias, as redes sociais, o TikTok. O AfD tem uma presença muito forte nestes canais, que são muito apelativos aos jovens e, portanto, sabemos que muitos dos votos do AfD foram precisamente de jovens", considera.
Mónica Dias acrescenta que o crescimento do AfD é explicado não só pelos jovens, mas, sobretudo, pelos "votos na antiga RDA, ou seja, nestes Estados federados mais recentes". "Esta falta de memória dos jovens relativamente ao Holocausto, por exemplo, faz com que olhem para este partido como uma ideia de quase normalização", diz.
Apesar de ser descrito como um líder "impulsivo", Patrícia Daehnhardt, investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais, especialista em política alemã, considera que a campanha eleitoral veio demonstrar o contrário e que o líder da CDU vai procurar a estabilidade o mais rapidamente possível.
"Nesta campanha eleitoral vimos um candidato, apesar de tudo, menos impulsivo. A minha perceção é que o novo chanceler está consciente da urgência da situação, tanto na Alemanha como na Europa, querendo com isto dizer que o próximo Governo terá de se constituir o mais rapidamente possível", nota Patrícia Daehnhardt, em declarações à TSF.
"Estas negociações poderão ser menos prolongadas do que se pensa e, por outro lado, não apenas é o contexto, tanto na Alemanha como o contexto europeu, que requer um líder decisivo e assertivo, mas, certamente, Merz tem essa ambição. Ele já quis ser chanceler há muito tempo, terá essa ambição de ser o chanceler de uma coligação estável e que consiga governar durante os próximos quatro anos. A questão da impulsividade terá de ser controlada", acrescenta, defendendo que o cenário mais provável é a coligação entre a CDU e o partido de Scholz, o SPD.
