Médicos preocupados com abertura de centros de saúde privados temem que problemas no SNS se agravem
À TSF, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar considera que a questão passa mais pelo SNS valorizar os seus profissionais, como faz mais o setor privado. As declarações surgem depois de o grupo CUF ter aberto os primeiros centros de saúde na Grande Lisboa
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O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Nuno Jacinto, mostrou-se esta segunda-feira preocupado com a abertura de centros de saúde privados.
Em declarações à TSF, Nuno Jacinto considera necessário fazer uma reflexão sobre a facilidade com que os privados conseguiram atrair profissionais para uma zona do país onde o público não consegue contratar. Além disso, o representante dos médicos de família espera que o Estado não se abstenha de resolver os problemas que existem na prestação de cuidados na Grande Lisboa.
"Isto não é só uma questão de dinheiro. Obviamente que a remuneração é importante e há muito tempo que devíamos estar a refletir sobre a maneira como estamos a pagar aos profissionais de saúde do SNS. Falamos de condições de trabalho, trabalho em rede, da autonomia e flexibilidade dos horários, que é algo muito do privado e não é replicado no público", afirma, considerando ainda que a questão passa mais pelo SNS valorizar os seus profissionais, como faz mais o setor privado.
Para Nuno Jacinto, não é só o dinheiro que atrai os profissionais para o privado. O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar acredita que o surgimento dos centros de saúde privados vai causar dificuldades nos recursos humanos do setor público.
O problema não é apostarem em centros de saúde privados. (...) O problema é porque é que não temos resposta do SNS nestas zonas e, obviamente, que não podemos assumir que não vale a pena resolver o que se passa no público.
Também o presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar diz que o setor público sai a perder com a abertura dos centros de saúde privados. Para André Biscaia, a principal consequência será a fuga de mais profissionais do público para o privado.
O presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar sublinha ainda que estes novos centros privados não vão melhorar a prestação dos cuidados de saúde.
André Biscaia acredita que estes centros de saúde privados não vão prestar um serviço tão completo como os públicos.
O grupo CUF abriu esta segunda-feira os primeiros centros de saúde na Grande Lisboa. Ainda não é o modelo de Parceria Público-Privado (PPP) que o Governo quer implementar entregar e, por agora, são centros de saúde apenas acessíveis para quem pode pagar ou tem um seguro de saúde válido para estes serviços.
