Escalada do conflito "não é inocente" e Estados contíguos a Israel "continuam" sem interesse em "entrarem numa guerra total"
A investigadora Joana Ricarte considera que o país israelita tem agido "sem responsabilização” e afirma que as eleições norte-americanas "colocam toda a ação dos Estados Unidos, seja de apoio, seja de pressão sobre Israel, numa situação de profunda cautela”
Corpo do artigo
A especialista em assuntos do Médio Oriente Joana Ricarte defende o desinteresse geral dos Estados contíguos a Israel de entrarem numa “guerra total aberta” com o país e sublinha que a escalada do conflito nesta fase “não é inocente”.
Joana Ricarte refere que os acontecimentos dos próximos dias vão depender muito daquilo que “virá a ser a resposta do Hezbollah”, explicando que esta pode ser uma “resposta contida, individual, uma manifestação de força, como pode ser uma resposta coordenada com o Irão”. Ainda assim, a também investigadora salienta que “continua a não haver interesse da maior parte dos atores da região de entrarem numa guerra total aberta com Israel”.
“Não digo isso por serem atores benignos, mas porque são atores que percebem também a simetria e desproporcionalidade de poder que têm relativamente a Israel”, sustenta.
A especialista assinala ainda que Israel tem agido “sem responsabilização”, devido, sobretudo, ao “apoio de outros atores, como os Estados Unidos” e explica que esta pode ser também uma forma de os israelitas tentarem “redefinir” os polos da força geopolítica da região.
Sobre a escalada do conflito, que agora se alastra para o Líbano, Joana Ricarte sublinha que a calendarização dos eventos “não é um acaso, não é uma coincidência”.
“Há aqui um outro fator externo, que também tem relevância, que são as presidenciais norte-americanas, que colocam toda a ação dos Estados Unidos, seja de apoio, seja de pressão sobre Israel, numa situação de profunda cautela”, atira, acrescentando que a “a utilização deste momento” não é “uma coincidência”.
No que diz respeito ao Irão, a especialista afirma que a posição deste país é “algo ambígua nessa situação”.
“É, por um lado, um Estado que tenta competir no equilíbrio de forças regionais com Israel e tem-se posicionado nesse sentido, incluindo a fazer um balanço a leste, junto com a Rússia, e com outras alianças que tem desenvolvido ao longo dos anos”, realça.
Ainda assim, e apesar de reconhecer que o Estado iraniano tem sido “profundamente belicoso” com Israel, Joana Ricarte considera “importante referir” que as várias milícias não têm aparecido “completamente do nada”.
“Elas [as milícias] nascem de um ciclo de conflitualidades que se vai aprofundando e é também por isso que essa ação de Israel, a curto prazo, pode ter um efeito de aumento de segurança, mas a longo prazo dificilmente o terá”, remata.