Portugal cai duas posições no índice de desempenho climático. Associação aponta dedo aos transportes
Apesar de o país continuar na lista dos países mais bem classificados, em declarações à TSF, Francisco Ferreira sublinha que, em 2024, as emissões de gases com efeito estufa podem aumentar, apesar do investimento de Portugal em fontes renováveis
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Portugal piorou em matéria de desempenho climático e desceu duas posições num índice anual, ainda que continue na lista dos países mais bem classificados.
A posição de Portugal era no ano passado a 13.ª e este ano o país está em 15.º lugar numa lista de países classificados no chamado "Índice de Desempenho das Alterações Climáticas" (CCPI na sigla original).
Em declarações à TSF, o presidente da associação ambientalista Zero sublinha que, em 2024, as emissões de gases com efeito estufa podem aumentar, apesar do investimento de Portugal em fontes renováveis. Francisco Ferreira aponta o dedo aos transportes.
"Estamos a fazer um esforço grande no recurso a fontes de energia renovável. Por outro lado, as suas emissões estão praticamente estagnadas. Pelas nossas contas, em 2024, até as vamos ver agravadas, porque, se estamos a usar menos gás natural fóssil na produção de eletricidade por causa das renováveis, os incêndios florestais acabam por compensar essa descida e até levar a um aumento global. Nos transportes, estamos com vendas de gasóleo e gasolina, no caso do rodoviário, acima de 2019 e praticamente idênticas ao ano passado e, portanto, quando nós temos esta fatia de emissões do transporte rodoviário acima de 30%, isso é motivo de preocupação", explica à TSF Francisco Ferreira.
Os incêndios e o transporte rodoviário são as duas razões apontadas por Francisco Ferreira para a queda de duas posições de Portugal no CCPI. Para o ambientalista, é preciso investir mais nos carros elétricos e impor restrições à circulação de carros nas cidades.
"No Orçamento do Estado, estamos a fomentar o uso de mais veículos a combustão por parte das empresas e, por outro lado, também, sem dúvida alguma, não tanto na responsabilidade do Governo, mas na responsabilidade das autarquias, precisamos de limitar o transporte automóvel individual no centro das cidades. Precisamos também de apoiar mais os veículos elétricos, precisamos de uma rede de carregamento que funcione para utilizar o facto de Portugal também ter uma percentagem tão elevada de fontes renováveis para alimentar este sistema", acrescenta.
O CCPI é apresentado esta quarta-feira na conferência da ONU sobre o clima, a COP29, que decorre até sexta-feira em Baku, Azerbaijão. É da responsabilidade das organizações internacionais "Germanwatch", "NewClimate Institute" e "CAN International". A CAN -- Rede de Ação Climática, é uma rede global de mais de 1900 organizações da sociedade civil em mais de 130 países que promove ações para combater a crise climática e alcançar a justiça social.
O CCPI analisa e pontua as políticas climáticas de cada país, fazendo parte da lista 66 países (e União Europeia), que representam 90% das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) do mundo inteiro.
Na verdade, não são 66 países porque o CCPI deixa sempre os três primeiros lugares em branco, assinalando que nenhum país está completamente alinhado com o objetivo do Acordo de Paris sobre o clima de manter o aquecimento global abaixo de 1,5 graus celsius (ºC) em relação à época pré-industrial.
Assim, no lugar cimeiro, que é, na verdade, o quarto, mantém-se a Dinamarca, seguida dos Países Baixos e do Reino Unido, este com uma grande subida. No grupo dos 15 países a verde seguem-se as Filipinas, Marrocos e Noruega, entre outros, com Portugal a fechar a lista.
A amarelo surge depois mais um grupo de países, do 16.º ao 34.º lugares, numa lista encabeçada pela Alemanha e fechada por Malta.
A Bélgica surge no lugar 35, já na lista laranja, que inclui países como a Nova Zelândia, Itália ou Hungria e que é fechada na posição 52 com a Austrália.
Os países com pior desempenho ambiental, a vermelho, são 15, incluindo a China e os Estados Unido, os maiores emissores de GEE, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, a Federação Russa ou a Turquia.
Do "ranking" destaca-se ainda a posição de União Europeia, no 17.º lugar e as grandes subidas na lista de países como a França, Irlanda, Eslovénia ou Malásia, além do Reino Unido. Ou as grandes descidas da Suíça e da Finlândia.
O CCPI analisa as emissões de gases com efeito de estufa, energias renováveis, uso de energia e política climática.
A associação ambientalista portuguesa Zero, que participa na elaboração do índice, diz num comunicado no qual divulga o ranking que os incêndios e as emissões nos transportes públicos têm valores elevados, estimando que este ano as emissões aumentarão em Portugal.
Notícia atualizada às 09h41
