Israel "retoma combates" na Faixa de Gaza até libertação de reféns: ataques matam mais de 400 pessoas
O ministro israelita da Defesa garante que "as portas do inferno se abrirão em Gaza” se os reféns não forem libertados
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Mais de 400 pessoas morreram esta terça-feira devido a ataques do Exército israelita contra a Faixa de Gaza, disse o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo movimento islamita palestiniano Hamas.
Num anterior balanço, fontes do Governo do enclave, citadas por meios de comunicação da Palestina, apontavam para pelo menos 205 mortes.
Um responsável do ministério, Mohammed Zaqout, disse à agência de notícias France–Presse que foram registados "mais de 400 mortes, a maioria crianças e mulheres palestinianas, e centenas de feridos, dezenas dos quais estão em estado crítico".
De acordo com a agência de notícias palestiniana Sanad, ligada ao Hamas, dezenas de pessoas foram mortas em ataques na cidade de Khan Yunis, incluindo membros de duas famílias que estavam nas suas casas quando foram bombardeadas pelo Exército israelita.
Além dos ataques aéreos, foram também registados disparos de tanques na mesma cidade, no sul da Faixa de Gaza, indica a mesma fonte.
Outras áreas visadas pelas tropas israelitas incluem o sul e o leste de Rafah, referiu a Sanad, bem como a Cidade de Gaza, a norte.
Relatos dos meios de comunicação palestinianos mencionam o vice-diretor do Ministério do Interior do Hamas, general Mahmoud Abu Watfa, como uma das vítimas mortais.
Após os ataques, o ministro israelita da Defesa, Israel Katz, anunciou que o país "retomou os combates" na Faixa de Gaza até que todos os reféns ainda retidos pelo Hamas sejam libertados.
Num comunicado, o ministro Israel Katz disse que “as portas do inferno se abrirão em Gaza” se os reféns não forem libertados.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse que ordenou os ataques devido à falta de progressos nas negociações em curso para prolongar o cessar-fogo.
“Isto aconteceu depois de o Hamas se ter recusado repetidamente a libertar os nossos reféns e ter rejeitado todas as ofertas que recebeu do enviado presidencial dos EUA, Steve Witkoff, e dos mediadores”, afirmou o gabinete de Netanyahu.
Um dirigente do Hamas disse que a decisão do primeiro-ministro israelita equivale a uma “sentença de morte” para os restantes reféns.
Izzat al-Risheq acusou ainda Netanyahu de lançar os ataques para tentar salvar a coligação governamental de extrema-direita e apelou aos mediadores para “revelarem os factos” sobre quem quebrou a trégua.
"Netanyahu decidiu retomar a guerra de extermínio, que vê como uma tábua de salvação para as crises internas" que Israel atravessa, disse al-Rishq.
A professora da Universidade de Coimbra Joana Ricarte confessa, em declarações à TSF, que os ataques levados a cabo esta terça-feira pelo Exército israelita não causam "surpresa", até porque Netanyahu foi ameaçando repetidamente "quebrar a segunda fase" do acordo de cessar-fogo, se "considerasse que não havia condições de continuar".
A isto junta-se a eleição de Donald Trump nos EUA, o que permite ao primeiro-ministro israelita falar a partir de uma "posição de poder" e até mesmo discutir abertamente a "limpeza étnica" em Gaza.
"Março é um mês em que Israel vai aprovar o seu Orçamento do Estado, sendo que a coligação de extrema-direita que suporta o Governo israelita está quebrada precisamente por causa da discórdia relativamente ao fim da guerra", destaca ainda a professora.
Joana Ricarte explica igualmente que o objetivo de Israel é "a destruição completa do Hamas", algo que "não é possível". Ainda, a questão dos reféns é "um beco sem saída", porque esse é o único fator de negociação, que permite ao movimento tentar assegurar um "futuro sustentável" para a Palestina.
No domingo, o procurador-geral israelita, Gali Baharav-Miara, rejeitou a decisão, tomada por Netanyahu, de demitir o diretor dos serviços secretos internos (Shin Bet), Ronen Bar.
Isto três semanas depois de a Procuradoria israelita ter ordenado ao Shin Bet que investigasse alegadas ligações entre vários funcionários do gabinete do primeiro-ministro e autoridades do Qatar, num escândalo conhecido como "Qatargate".
*Notícia atualizada às 11h45