Estado da Palestina? "Não reconhecimento encorajará a continuação da ocupação e da injustiça contra o povo palestiniano"
O Fórum TSF analisou tudo o que envolve o reconhecimento do Estado da Palestina pelo Governo português
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Espanha, Noruega e Irlanda reconheceram oficialmente o Estado da Palestina esta terça-feira. Já o Governo português insiste que não é o momento para tomar essa decisão e que o país vai esperar pela discussão na União Europeia. Especialistas ouvidos no Fórum TSF fizeram um ponto de situação: por um lado, é "um passo importante" na resolução do "terrível" conflito israelo-palestiniano, "o cancro das relações internacionais", e, por outro, é "um favorecimento grande às atividades terroristas do Hamas".
A Autoridade Palestiniana em Portugal, em comunicado assinado pelo chefe da missão diplomática Nabil Abuznaid e lido pela assessoria no Fórum TSF, pede a Portugal que siga o exemplo de Espanha, Irlanda e Noruega, "para estar entre os primeiros países europeus a reconhecer o Estado da Palestina". Fazê-lo, considerou, é "um passo importante no caminho para a solução de dois Estados, Palestina e Israel, para viverem juntos em paz". "O não reconhecimento do Estado da Palestina encorajará a continuação da ocupação e da injustiça contra o povo palestiniano", destacou também.
Agradeceu ainda ao "grande português António Guterres [atual secretário-geral das Nações Unidas], que lidera a batalha pela humanidade e pelo direito internacional no sentido de proteger o povo palestiniano". Depois, citou as palavras de Guterres proferidas esta segunda-feira, na sequência de um ataque israelita a um campo de refugiados em Rafah, na Faixa de Gaza, que provocou 45 mortos: "Este horror deve parar."
Também a diplomata Ana Gomes, que trabalhou no processo de paz no Médio Oriente, lamentou a postura de Portugal de não se juntar à Noruega, "país que mais sabe, que mais se envolveu, que mais trabalhou desde o início, com os acordos de Oslo", assinados entre israelitas e palestinianos, em 1993.
A socialista criticou ainda Portugal por não acompanhar a decisão da Irlanda - "país que foi capital para nos apoiar na questão de Timor-Leste, quando outros nossos parceiros e nossos amigos da NATO e da União Europeia não o faziam" - e da "vizinha" Espanha - "que é também um país que não só respira a união mediterrânica, que obviamente precisa da resolução deste terrível conflito, o cancro das relações internacionais, como é também um país-chave neste processo de envolvimento europeu na procura de um processo de paz no Médio Oriente".
Já Victor Ângelo, ex-secretário-geral-adjunto da Organização das Nações Unidas, enfatizou no Fórum TSF que Lisboa tem de encontrar um "equilíbrio" entre o facto da maioria da comunidade internacional reconhecer o Estado da Palestina e as alianças que tem quer em Bruxelas, quer em Washington. "Era importante politicamente, era importante diplomaticamente para Portugal alinhar-se com a maioria", referiu também.
Pelo contrário, para José Ruah, da direção da Comunidade Israelita de Lisboa (CIL), reconhecer o Estado da Palestina é "um favorecimento grande às atividades terroristas do Hamas, às passadas, atuais e futuras".
"Há 30 anos que se procura com grande investimento internacional que haja um Estado viável. Ora, em Gaza especificamente, o investimento internacional não foi para construir hospitais, não foi para construir escolas, não foi para criar um Estado, foi para túneis", afirmou, numa referência ao movimento islamita Hamas.
O mesmo membro da CIL saudou igualmente "a temperança do Governo português, que decidiu pela sua cabeça e não alinhou em movimentos globais, porque cada Estado tem de decidir por si e não pode ser coagido por terceiros". José Ruah sugeriu a possibilidade de Portugal ser o mediador do conflito pelas suas caraterísticas geográficas e políticas: "Eventualmente quando ele [o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel] fala numa possibilidade de mediação, um país que as pessoas consideram pequeno e periférico como Portugal, mas que, se calhar, exatamente porque não tem tantos compromissos naquela zona [Médio Oriente], pode ser, isso sim, o mediador mais adequado."
Por sua vez, admitindo que Portugal "podia ter dado o passo do reconhecimento, que em si é um gesto simbólico", Pedro Pedrosa, do Coletivo pela Libertação da Palestina, contou que a posição do Executivo está "a colocar em risco" os portugueses que têm de viajar de e para território israelense. A associação recebeu, há três dias, denúncias de cidadãos nacionais "a tentar sair de Israel, onde foram assediados, onde foram quase violentados na fronteira, no aeroporto por parte do Estado de Israel, e o Estado português não consegue fazer nada quanto a isto, tamanha é a pressão que o Estado de Israel faz".

