Entrevista TSF com o investigador do ISCTE Bruno Cardoso Reis, que acredita que esta votação ficará para a "história" por causa de Donald Trump
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O investigador do ISCTE e, este ano, investigador convidado da Universidade de Georgetown, em Washington, não tem dúvidas sobre o significado, nomeadamente para a Europa, daquilo que está em causa nestas eleições nos EUA.
"É para mim é bastante evidente como historiador e, até como historiador também muito interessado na história americana, que é a eleição mais importante na história norte-americana que eu tenho memória, ou seja, do meu ponto de vista, é a eleição mais importante, provavelmente desde a Segunda Guerra Mundial, quer em termos de política interna, quer em termos de política externa", afirma Bruno Cardoso Reis.
O académico português acredita que "Trump realmente fez uma campanha muito radicalizada, que lhe dá legitimidade para fazer, de facto, mudanças revolucionárias, quer na forma como tem funcionado tradicionalmente a política interna americana, quer também a política externa, que é aquela que nos interessa mais a nós e ao resto do mundo".
É verdade que há, no mundo com que hoje nos confrontamos, "uma tendência para mais nacionalismo económico, mais protecionismo, algum fechamento, também mais restrições à imigração. Alguma tendência para conflitos comerciais, sobretudo com a China, mas até com a União Europeia". Conflitos esses que existiram também com Obama, Biden e não apenas com Trump.
"Acho que em todos esses aspetos Trump é de outra ordem de grandeza, isto para não falar de questões como deportação massiva de imigrantes ilegais, que é uma das propostas centrais da lei dele, mas, por exemplo, do ponto de vista dos interesses europeus. Questões como pôr radicalmente em causa o apoio à Ucrânia, pôr radicalmente em causa o artigo quinto do Tratado da Aliança Atlântica e o apoio aos aliados. No fundo, dar carta branca a Putin, como ele próprio disse, no fundo, deixar Putin fazer o que entendesse. Tudo isso é uma mudança radical no contexto geopolítico, nas garantias de segurança a que os europeus se habituaram desde a Segunda Guerra Mundial, uma Presidência Kamala Harris seria bastante diferente disso", afirma.
Para o historiador, "os dados objetivos que temos apontam no sentido de se manter a tendência dos últimos anos, que são eleições muito renhidas, muito disputadas, que podem ser decididas em alguns estados-chave: os tais famosos 'swing states', os estados oscilantes e, como já aconteceu com a Pensilvânia, às vezes por margens de dez ou vinte mil".
Os norte-americanos escolhem esta terça-feira o novo Presidente.