Vice-presidente do PPE na Venezuela diz ter “temor fundamentado de que no domingo possa haver um golpe de Estado” e que a eleição “esteja manipulada”
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As autoridades venezuelanas barraram, esta sexta-feira, a entrada da missão do Partido Popular Europeu (PPE), que se deslocou ao país a convite da oposição para acompanhar as eleições do próximo domingo.
Entre os eurodeputados está o vice-coordenador do PPE na Comissão de Assuntos Externos do Parlamento Europeu, Sebastião Bugalho, que também foi impedido de entrar no país. Segundo fonte do PPE contactada pela TSF em Bruxelas, os vários eurodeputados “foram impedidos de entrar em território venezuelano e embarcados no primeiro voo para Madrid”.
Além de Sebastião Bugalho, a delegação que viajou para a Venezuela é composta pelos deputados espanhóis Esteban González Pons, que é também vice-presidente do PPE, e Gabriel Mato.
Ainda no aeroporto de Caracas, antes de embarcar no voo para Madrid, o eurodeputado González Pons expressou o “temor” de que a Venezuela possa vir a assistir a “um golpe de Estado” no próximo domingo.
“Viemos à Venezuela, convidados pela candidatura da oposição democrática, para acompanhar o processo eleitoral de domingo e partimos, já não com a suspeita, mas com um temor fundamentado de que no domingo possa haver um golpe de Estado”, dramatizou o eurodeputado, alertando para a possibilidade “de que a eleição que vai ocorrer no domingo esteja manipulada”.
“Esperamos que o povo venezuelano se levante com tal força que a resistência estabelecida pelo regime seja vencida”, enfatizou, num vídeo divulgado nas redes sociais por Pedro Urruchurtu Noselli, ativista político e coordenador de relações internacionais da anterior campanha da líder da oposição, Maria Corina Machado.
Lançando um conjunto de críticas à política interna do seu próprio país, o deputado do PP espanhol González Pons, colega europeu de Sebastião Bugalho, afirmou não ter recebido o apoio diplomático solicitado junto da embaixada de Espanha, insinuando que possa ter havido uma “ordem do governo” de Pedro Sánchez para que a delegação tenha sido deixada “à mercê das autoridades venezuelanas”.
“Reclamámos a presença do embaixador de Espanha e, provavelmente por uma ordem do Governo, ele não veio. Deixaram-nos à mercê das forças de segurança venezuelanas, que, com um convite óbvio, claro, linear e limpo da oposição, não nos deixaram entrar”, lamentou González Pons.
Antes de partir para Caracas, o eurodeputado Sebastião Bugalho tinha expressado à TSF a convicção de que esta missão de acompanhamento decorreria sem problemas, contrastando com o ocorrido há cinco anos, também durante as eleições, quando uma delegação do PPE foi igualmente impedida de entrar na Venezuela.
“Do ponto de vista formal, verbal e institucional, procedemos de forma absolutamente correta de todos os pontos de vista”, afirmou, detalhando que a delegação “forneceu as garantias, do ponto de vista diplomático, institucional e formal, de que a nossa viagem era uma viagem respeitadora da soberania venezuelana, da soberania do ato eleitoral que vai decorrer este fim de semana”.
O eurodeputado sublinhava que se trataria de “uma viagem que corresponde e responde a um convite nesse sentido”, considerando que a missão de acompanhamento “tem todas as condições não só para entrar como para estar e para tudo correr com toda a normalidade”.
O mesmo dizia esperar relativamente às eleições do próximo domingo, apesar de, nos últimos dias, Nicolás Maduro ter endurecido o discurso, admitindo um “banho de sangue” em caso de derrota nas eleições.
“A nossa expectativa e a nossa esperança, com sentido de responsabilidade, é que o ato eleitoral decorra sem qualquer tipo de percalço”, tinha dito o vice-coordenador do PPE na Comissão de Assuntos Externos do Parlamento Europeu, ainda antes de embarcar para a Venezuela, onde acabou por ser impedido de entrar.
O PPE tinha anunciado a missão de acompanhamento eleitoral “em resposta a um convite da líder da oposição democrática, Maria Corina Machado, e do candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, em nome da Direção Nacional da Campanha ‘ConVZLA’”.
O convite da oposição surgiu depois de Nicolás Maduro ter impedido uma missão oficial de observadores eleitorais da UE. “Vamos à Venezuela em comunhão total com o espírito democrático destes venezuelanos que querem participar no ato eleitoral; e em comunhão total com a comunidade portuguesa, que tem uma forte presença no território venezuelano”, afirmou o eurodeputado.
Na carta convite, dirigida aos eurodeputados por Corina Machado, salientava que a candidata “venceu por larga maioria as eleições primárias entre os candidatos da oposição democrática e foi posteriormente excluída do exercício de cargos públicos pelo Supremo Tribunal venezuelano”.
Sublinhando a importância da presença de uma delegação do PPE, Corina Machado apela a que os eurodeputados se juntem para “testemunhar o acontecimento”, apontando, porém, para as limitações da “observação eleitoral” no contexto de um país como a Venezuela.
“Acreditamos que é essencial que os aliados da causa democrática venezuelana possam juntar-se a nós e testemunhar este acontecimento. As suas vozes representam, não apenas uma reafirmação do seu apoio e solidariedade, mas também a oportunidade de demonstrar ao mundo o que for acontecendo ao longo do processo, num contexto em que a observação eleitoral técnica é muito limitada”, lê-se na carta.