"Inquietação e preocupação." Extrema-direita francesa "não venceu", mas "resultado não permite solução sustentada no tempo"
As eleições francesas subiram a debate n'O Princípio da Incerteza. Miguel Macedo sublinha que a extrema-direita não ganhou, mas o resultado não garante estabilidade. Pacheco Pereira defende que França tem um problema de governabilidade e Alexandra Leitão considera que "a convergência à esquerda é bem-vinda"
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A aliança de esquerda Nova Frente Popular venceu a segunda volta das eleições em França, mas a formação de um novo Governo mantém-se em aberto, uma vez que nenhum dos blocos concorrentes nas eleições legislativas antecipadas alcançou maioria absoluta. No programa O Princípio da Incerteza, da TSF e da CNN Portugal, o social-democrata Miguel Macedo sublinha que a extrema-direita não ganhou, mas o resultado das eleições não garante estabilidade.
"Acentuaram-se os fatores de inquietação e de preocupação, porque, de facto, sendo positivo que a extrema-direita não tenha obtido vencimento, nem tenha progredido verdadeiramente da primeira para a segunda volta em França, o que prova que quem delineou a estratégia de cruzar votos para conseguir as maiorias na segunda volta teve vencimento nessa estratégia, a verdade é que o resultado não consente que possamos pensar, por muito otimistas que queiramos ser, numa solução sustentada no tempo para França", afirma o antigo ministro da Administração Interna.
Já Pacheco Pereira defende que França tem um problema de governabilidade. "Está tudo preocupadíssimo com Mélenchon, eu também não tenho simpatia por Mélenchon, o problema não é esse. A França tem problema de governabilidade, mas o que tem hoje é diferente de ontem, porque uma coisa eu garanto: se o partido da senhora Le Pen tivesse tido uma maioria absoluta, como tudo parecia indicar, o problema da França era 10 vezes pior do que tem hoje, porque hoje tem um problema institucional para resolver. Tem muito a ver com o sistema político francês, tem muito a ver com a natureza da esquerda francesa e com a natureza da direita francesa, mas é um problema que pode ser contido nos termos do funcionamento da democracia", explica.
Questionada sobre a vitória da coligação de esquerda e se ela poderá inspirar a política de coligações do PS, a líder parlamentar socialista, Alexandra Leitão, não tem dúvidas: "Não creio que altere a posição que o Partido Socialista tenha relativamente a essas iniciativas, aquilo que, na verdade, alterou definitivamente a posição do Partido Socialista relativamente a isso foi o Governo do Partido Socialista em 2015, apoiado pelo Partido Comunista e pelo Bloco de Esquerda. A partir daí esse tabu foi quebrado e está quebrado. Não é a vitória em França, de uma convergência de esquerda, que, a meu ver, altera isso. Esse tabu foi quebrado com esse Governo que, muitas vezes, continua a ter hoje uma enorme taxa de aprovação popular. Esta convergência à esquerda, acho que é bem-vinda, evitou, quebrou, derrotou, fez barreira à Frente Nacional e isso é importante, portanto, acho que é um dia bom", considera.
A coligação de esquerda terá assegurado entre 177 e 198 lugares na Assembleia Nacional, o parlamento francês, segundo as últimas projeções e resultados parciais, enquanto a aliança centrista do Presidente francês, Emmanuel Macron, segue em segundo lugar, com 152 a 169 lugares, tendo a extrema-direita da União Nacional caído da liderança que obteve na primeira volta para um terceiro lugar no domingo, com a conquista de entre 135 e 143 lugares.
Com estes resultados, nenhum dos partidos concorrentes às eleições obterá os 289 lugares necessários para uma maioria absoluta na assembleia de 577 lugares.
