Opinião

Entre um ditador de direita e um democrata de esquerda, o CDS não hesitaria em escolher o ditador

No espaço de Opinião da TSF, Daniel Oliveira criticou Assunção Cristas por dizer que não escolhia nem Bolsonaro nem Haddad. O comentador afirma que "há momentos em que a neutralidade é inaceitável".

Daniel Oliveira censura Assunção Cristas por ter declarado que, se fosse cidadã brasileira, nestas eleições presidenciais não votaria nem em Jair Bolsonaro nem em Fernando Haddad. No espaço de comentário que ocupa semanalmente na TSF, o jornalista afirmou que os critérios políticos da defesa da democracia e da liberdade não são prioritários para a presidente do CDS.

O comentador começou por referir as eleições presidenciais francesas, que opunham a líder da extrema-direita Marine Le Pen ao centrista Emmanuel Macron. "Na primeira volta das eleições francesas, disse não aceitar que os franceses estivessem condenados a escolher entre a xenofobia e o ultraliberalismo. Mas, na segunda volta, não pude hesitar", recordou Daniel Oliveira. "Contra Le Pen, votaria Emmanuel Macron. Para o combater no dia seguinte."

Daniel Oliveira considera que a luta contra o regresso do autoritarismo "não tem fronteiras" e que "há momentos em que a neutralidade é inaceitável". Para o comentador, a linha é delineada "quando o debate deixa de ser sobre o caminho que fazemos, para ser sobre o chão em que caminhamos".

O jornalista tece, por isso, duras críticas às palavras de Assunção Cristas, que recusou-se a escolher entre Haddad e Bolsonaro.

"Perante um homem que defendeu abertamente a tortura, que defendeu a guerra civil, que lamentou que a ditadura chilena não tivesse assassinado mais gente, que disse preferir ver o seu filho morrer a ser homossexual e que, ainda há uns dias, prometia prender o seu opositor, Assunção Cristas é neutral", constatou Daniel Oliveira. "A defesa da democracia e a liberdade não são os seus primeiros critérios políticos."

Daniel Oliveira acredita que, no início da democracia portuguesa, Freitas do Amaral conseguiu "civilizar" uma direita acostumada a meio século de ditadura, mas, no entanto, os "esqueletos" da mesma continuam por aí.

"As lideranças do CDS têm sabido esconder debaixo do tapete que, entre um ditador de direita e um democrata de esquerda, a maioria dos militantes do CDS não hesitaria em escolher o ditador", acusa o jornalista.

"A líder do CDS desfez, numa frase, o que Freitas do Amaral tinha feito e o que os seus sucessores tinham preservado", rematou. "Agora ficou tudo mais claro."

Texto: Rita Carvalho Pereira