Laudelino Jesus já viveu na rua. Trabalha na Associação de Albergues Noturnos do Porto e é educador de pares, mas a primeira vez que entrou naquele espaço vinha à procura de ajuda.
Atualmente usa a experiência de vida para ajudar os outros a ultrapassarem a situação de sem abrigo. Miguel Neves, diretor da Associação de Albergues Noturnos do Porto, contou à TSF que Laudelino Jesus "é um caso de sucesso", atualmente colabora com a equipa técnica da associação e usa a "experiência pessoal para mostrar que é possível sair da situação de exclusão social e de sem abrigo".
Durante dois anos foi ajudado pela associação, "trabalhou no processo de reabilitação, ultrapassou dificuldades de integração e acabou por ser integrado nos quadros da associação".
Laudelino Jesus diz que o que viveu foi muito importante: "sempre que batem à porta da Associação, revejo-me na pessoa que ali está e sinto que posso fazer a diferença no acompanhamento. As pessoas quando vêm da rua numa situação de sem abrigo, chegam derrotadas. Comigo aconteceu isso, não queria pensar em nada."
"Ninguém está livre de se deixar arrastar para esta situação. Eu era empresário, tinha um bar, fui incoerente com a minha família e amigos e a vergonha levou-me a fugir", conta Laudelino.
"É uma vida esquizofrénica, nunca tinha passado por algo tão duro. Não sou do Porto e, às vezes, só por pedir uma informação e por causa da minha aparência as pessoas afastavam-se. Para a minha recuperação foi fundamental sentir-me integrado." Laudelino Jesus diz que a maior dificuldade de tirar alguém das ruas é devolver a capacidade de voltar a confiar.
Atualmente tem a vida estruturada e organizada, reaproximou-se da família e diz que é feliz. "Descobri coisas que desconhecia, sinto-me completo, chego a casa e durmo mesmo."
Faz esta quarta-feira um ano que foi apresentada a Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo. A esse propósito, a secretária de Estado, Cláudia Joaquim, esteve à conversa com o jornalista Fernando Alves nas manhãs TSF.