"Dia estadual do coach, ahahaha", debochou o parlamentar de Minas Gerais. No instante seguinte, descobriu que a proposta era dele.
Os deputados no Brasil, e não só no Brasil, são acusados de trabalhar pouco e mal. Mesmo quando estão a projetar ou a votar leis, em vez de usarem o tempo para tratar de assuntos que melhorem a vida das pessoas, preocupam-se com ninharias sem interesse.
Vem esta introdução a propósito da iniciativa votada na semana passada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais para se instituir o "dia estadual do coach", essa nova e nobre profissão.
Do coach, onde já se viu, registou a imprensa presente com cara de "não lhes falta inventar mais nada".
Mas mais do que a imprensa, quem criticou a iniciativa foi Felipe Attiê, um deputado do PTB, presidido por Roberto Jefferson, o deputado corrupto que denunciou o Mensalão, ainda na década passada.
"Dia do coach", reagiu, alto e bom som, com sarcasmo, o deputado. "Estes deputados, ahahaha...", prosseguiu, com um riso indignado, "estes deputados devem estar de brincadeira!".
O secretário da assembleia, no entanto, manteve a compostura. "Vamos então votar o projeto 3697 da autoria de... Felipe Attiê".
O deputado, ao descobrir que zombara do seu próprio projeto, reagiu com um sonoro "oi?".
De facto, explicou depois, ele tivera a ideia do "Dia Estadual do Coach", em 2016, mas engavetou-o. Ou julgou que engavetara. Porque, por confusão de agenda, o projeto seguiu os trâmites normais até chegar a votação agora, em novembro de 2018.
Não se confirmam, entretanto, as informações de que o deputado contratou um coach para o ajudar a gerir a sua desorganizada agenda.
O correspondente da TSF no Brasil, João Almeida Moreira, assina todas as quintas-feiras no site da TSF a crónica Acontece no Brasil.