Desporto

Benfica-Braga: um duelo de Natal entre candidatos que não querem perder o comboio do título

O tema principal do "Números Redondos" desta semana só podia ser um: o Benfica-Braga de domingo, um jogo entre candidatos que não querem perder o comboio do título com o Natal à porta. A história está do lado das águias mas os guerreiros do Minho também têm argumentos fortes.

Vale a pena começarmos pela satisfação de, à 14ª jornada, termos ainda quatro candidatos ao título, sendo um deles (o Braga) um intruso na habitual luta a três, que ainda por cima nos últimos anos tem quase sempre sido somente a dois.

Motivos, portanto, para regozijo entre os adeptos da liga portuguesa. Até porque assim há automaticamente mais jogos "grandes" - este é já o quinto do presente campeonato e ainda fica a faltar o Sporting-FC Porto da última ronda da primeira volta.

Regozijo a dobrar, diria, porque temos neste momento a disputa pelo título mais alargada das 10 ou 15 principais ligas europeias, nas quais há líderes bem isolados, como em Itália (Juventus), França (PSG) ou Alemanha (Borussia Dortmund). Em Portugal são apenas quatro os pontos a separarem o primeiro do quarto, e a liga mais próxima neste particular é a espanhola, com diferença de cinco pontos entre Barça (primeiro) e Real Madrid (quarto).

Note-se que em Portugal, à entrada desta ronda, os quatro candidatos não perderam pontos nas últimas três rondas. A derradeira vez que tal sucedeu foi num jogo entre candidatos (Porto, 1 - Braga, 0, à jornada 10), pelo que teria que acontecer de uma forma ou de outra.

Se não contarmos com esse confronto, o último candidato a perder pontos foi o Benfica (1-3 com o Moreirense, na Luz) na nona jornada.

Assim nesta jornada 14 de certeza que vai haver candidatos a ceder pontos. E como Benfica e Braga são os dois piores colocadas entre os quatro candidatas ao título, uma derrota poderá implicar o aumento significativo da desvantagem para Porto e Sporting, se estes vencerem os seus compromissos, claro.

É verdade que o Benfica já não perde com o Braga há 10 jogos. A última derrota até sucedeu na Luz, a contar para a Taça de Portugal, em 2014, com Jesus no banco encarnado e Sérgio Conceição no do Braga, que seria finalista vencido da competição frente ao Sporting).

Também é um facto que na Luz, para o campeonato, o Braga não tem criado grandes dificuldades ao Benfica, mesmo nos últimos anos, de contínua ascensão bracarense. Nos últimos cinco jogos, outras tantas vitórias encarnadas e quase sempre com clareza (14-3 em golos). Se abrirmos o espetro temporal de análise, em todo o século XXI o Braga nunca venceu no reduto do Benfica para a liga: 17 derrotas e somente cinco empates, o mais recente dos quais na primeira jornada da liga 2012/13, num duelo Jesus-Peseiro.

Aliás, os números gerais deste confronto na liga são impressionantes: somente um triunfo do Braga em 62 jogos (a que se juntam 12 empates e 49 derrotas...). E por aqui se vê a força do SLB na receção ao SCB.

Mas é igualmente inegável que esta superioridade esmagadora do Benfica na receção ao Braga pode ser um pouco mitigada pelo momento atual das duas equipas. Não é que o Benfica, depois da turbulência que quase levou ao despedimento de Rui Vitória, tenha falhado no cumprimento dos objetivos: venceu os últimos seis encontros de todas as competições, não sofrendo qualquer golo neste período de três semanas - todo o mês de Dezembro (score de golos: 10-0). No entanto, sente-se que nem tudo corre bem no reino da águia, que está muito longe de convencer os seus adeptos em termos exibicionais, tendo vencido os últimos quatro jogos por 1-0, incluindo frente ao modesto Montalegre, para a Taça de Portugal.

Já o Braga chega à Luz com cinco vitórias consecutivas em todas as provas, logo a seguir à derrota no Dragão (para já o único desaire da temporada (!) da equipa de Abel Ferreira) que, lembre-se surgiu no último minuto de uma partida na qual desfrutou de mais ocasiões de golo do que o líder do campeonato - algo que já não se via há muitos anos no reduto portista em jogos do campeonato português.

Os "Guerreiros do Minho" também não têm sofrido golos: nos últimos quatro encontros mantiveram o zero na sua baliza (8-0), mesmo em Setúbal onde jogaram (e venceram) o prolongamento da partida da Taça de Portugal da semana passada com menos um jogador.

Convém igualmente lembrar que a consistência deste Braga vem de longe, pelo menos da segunda parte da temporada passada, de tal forma que nos últimos 26 jogos da liga apenas perderam duas vezes.

Posto isto, vejamos quais têm sido os principais pontos fortes e pontos fracos de Benfica e Braga no presente campeonato e como aqueles podem influenciar o jogo do estádio da Luz: os vermelhos de Lisboa são juntamente com o Porto a equipa com os números ofensivos mais impressionantes da prova, que traduzem um superior volume de jogo. Tanto em termos de dados relativos a oportunidades de golo criadas (cerca de 6.5 por jogo em média) remates efetuados (à volta de 17), remates no alvo (6.3) e remates na área adversária (9.6).

Já o Braga tem números ofensivos menos fortes mas curiosamente marca mais do que o Benfica (26-25 em golos), o que significa que é muito mais eficaz (44% de aproveitamento das ocasiões contra 30% do Benfica). Aliás, o Braga é claramente a equipa com melhor eficácia no aproveitamento das oportunidades, uma vez que se fica pelas 4.5 ocasiões de golo em média por jogo. Curiosamente, não venceu no Dragão porque não conseguiu aplicar a sua habitual eficácia neste encontro. Veremos o que acontece na Luz...

Registe-se que Benfica e Braga são muito semelhantes na forma como chegam ao golo: entre os candidatos são os que melhor exploram os ataques rápidos. Ambos marcam mais em transições do que em ataque organizado (Benfica com 13 golos de ataque rápido e 11 de ataque organizado e Braga com 9-8).

Abel Ferreira terá com certeza especial preocupação com o lado direito da sua defesa, uma vez que o Benfica tem nos últimos jogos marcado quase sempre pelo lado esquerdo, com Grimaldo e Zivkovic a funcionarem muito bem (construindo cinco golos nas três últimas partidas).

Pelo seu lado, o Braga é mais forte pelo corredor central: oito golos construídos pelo centro em 17 de bola corrida - e note-se que é exatamente pelo centro que o Benfica é mais vulnerável: cinco dos oito golos concedidos de bola corrida foram criados no corredor central.

Nas bolas paradas, o Benfica continua com apenas um golo marcado (e de penálti), enquanto o Braga já marcou seis (um de penálti), tendo centrais muito fortes neste aspeto, juntamente com Dyego Sousa.

Será de esperar que o Benfica faça as despesas do jogo, até porque é a equipa mais forte do campeonato na posse de bola: média de 58,5% por jogo (o Braga é apenas sexto neste particular, com 51.3%). Os minhotos apostarão mais nas saídas rápidas e no aproveitamento do corredor central, sendo que como é habitual nestes jogos grandes a eficácia na concretização das oportunidades claras de golo será decisiva.

E é aqui que entram os nossos destaques individuais na antevisão desta partida.

Neste caso justifica-se plenamente que os goleadores dos dois conjuntos sejam as escolhas: Dyego Sousa é "apenas" o melhor marcador do campeonato a par de Bas Dost (10 golos), e o jogador mais influente com 13 pontos (10 golos e 3 assistências) e vem de um hattrick no jogo da última jornada, com o Feirense.

Do outro lado, temos um Jonas que marcou em todos os últimos cinco jogos do campeonato, tendo decidido os dois últimos (nos Barreiros com o Marítimo, e no Bonfim com o Vitória de Setúbal). Um duelo brasileiro que promete muito e que pode ter importância determinante no resultado final deste jogo grande de Natal.

Nota: neste "Número Redondos", que pode ouvir aqui na íntegra, abordamos ainda outros temas: os jogos de Sporting e Porto na 14ª ronda da liga; o sorteio das equipas portuguesas na UEFA; o homem de quem os números falam: Diaby