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Nova líder da CDU vai ter que "mostrar independência" de Merkel

Depois de 18 anos com Angela Merkel aos comandos, a União Democrata Cristã (CDU) começa uma nova fase com a recém-escolhida Annegret Kramp-Karrenbauer. A este propósito, a TSF entrevista Edgar Grande, antigo professor de Ciências Políticas no Instituto Geschwister-Scholl.

Depois de 18 anos com Angela Merkel aos comandos, a União Democrata Cristã (CDU) começa uma nova fase com a recém-escolhida Annegret Kramp-Karrenbauer. A ex-governadora do estado federado do Sarre quer descolar-se do apelido de "mini-Merkel", mas será AKK assim tão diferente? A TSF entrevistou Edgar Grande, antigo professor de Ciências Políticas no Instituto Geschwister-Scholl, da Universidade Ludwig-Maximillians de Munique. É, desde novembro de 2017, o diretor fundador do Centro de Pesquisa da Sociedade Civil no Centro de Pesquisa em Ciências Sociais de Berlim (WZB).

Novo líder, novo partido? Depois desta eleição, são esperadas mudanças significativas no rumo político da CDU?

Não. A nova líder, Annegret Kramp-Karrenbauer, defende a continuidade das políticas de Merkel. Isto inclui, por exemplo, posições pró-europeias em relação à UE, o apoio à cooperação multilateral em geral, a rejeição de posições nacionalistas na política de migração e refugiados. Há diferenças em relação a Angela Merkel noutras questões, como por exemplo na política familiar, em que a nova líder assume uma posição mais conservadora. É improvável, no entanto, que ela queira recuar ou contrariar decisões recentemente tomadas. Também não espero grandes mudanças nas políticas económicas e sociais.

Foi AKK a melhor opção para o partido nesta altura?

Ela foi certamente a melhor opção para aqueles que querem continuidade e esse desejo não é apenas de uma pequena maioria dos delegados no congresso do partido. Não há o desejo forte de uma grande mudança entre os militantes e entre a própria opinião pública de forma mais ampla, mesmo que haja um número significativo de críticos de Merkel na CDU. Por essa razão, Merz e Spahn (os dois candidatos adversários de AKK na corrida à liderança) tiveram que tomar posições bastante moderadas na maioria das questões na sua competição com Kramp-Karrenbauer. Merz era o portador de esperanças daqueles que buscavam um novo perfil para o partido, mas a sua agenda de mudanças foi sempre bastante vaga.

Considera que a Grande Coligação (GroKo), formada pela CDU, CSU e SPD vai conseguir resistir até ao final da legislatura, em 2021? E os últimos anos de Merkel como chanceler serão mais fáceis com AKK na liderança dos democratas cristãos?

A mudança na liderança da CDU não desestabilizará o governo de coligação. Não creio que a unidade do partido fique ameaçada e, considerando a próxima mudança na liderança da CSU (prevista para o início de 2019), as distâncias entre os três partidos que formam a GroKo serão mais curtas. O principal risco para a estabilidade da "grande coligação" será o SPD. No entanto, acredito que a CDU vá assumir uma posição mais autoconfiante em relação ao governo e Kramp-Karrenbauer seja submetida a uma forte pressão para demonstrar sua independência de Merkel.

Qual será, na sua opinião, a primeira grande decisão que AKK irá tomar?

Ela já tomou uma primeira decisão importante ao nomear Paul Ziemak, o líder da juventude da CDU, como secretário-geral do partido. Atendendo ao facto de que a modernização programática é um dos seus principais objetivos definidos para os próximos anos, esse lugar pode vir a ter bastante relevo.

Esta nomeação pode ser vista como uma forma de "agarrar" os delegados que não votaram nela nesta eleição?

Esta nomeação do novo secretário-geral é um primeiro sinal de que ela pretende fortalecer não apenas o perfil social e liberal do partido, mas também as suas posições conservadoras. Esta decisão representa um esforço para integrar a ala conservadora do partido, os defensores de Spahn em particular. Nos próximos meses, antecipo também haja um intensificar dos debates programáticos.

E qual será a estratégia de AKK para recuperar os votos perdidos da CDU nas eleições gerais do ano passado e nas regionais deste ano, principalmente para o partido de extrema-direita, Alternativa para a Alemanha (AfD)?

O problema não é apenas a AfD. A CDU e a CSU perderam quase tantos votos para os Verdes como para a AfD. Isso indica que o partido precisa de reconsiderar e redefinir a sua posição no centro do espaço político, em vez de se adaptar à direita radical. Isso exige uma modernização substancial do perfil programático do partido, em vez de alterações na política em questões especificas, como a migração. Este é o desafio mais importante que a nova liderança do partido enfrenta nos anos que antecedem as próximas eleições nacionais.