Daniel Oliveira condena aqueles que criticam o "politicamente correto", mas ficaram indignados com as declarações de Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo, sobre a polícia portuguesa.
Na semana passada, Mamadou Ba endereçou a questão da violência policial contra os negros escrevendo um post no Facebook, no qual se refere às forças policiais como «a bosta da bófia». A publicação gerou uma onda de indignação.
"O país mobilizou-se em choque", constatou Daniel Oliveira. "Um general exigiu a extradição imediata de Mamadou Ba, apesar de ele ser cidadão português. Dois marginais do PNR filmaram uma espera que fizeram ao 'preto atrevido'. Agentes da PSP ameaçaram-no nas redes sociais. Houve petições. E um líder distrital do PSD, além de o mandar à 'ba(rdamerda)', questionou o seu direito à mesma proteção policial a que até os piores criminosos têm direito", observou.
O comentador considera que "a violência desta reação" só aconteceu porque o sujeito em causa "chama-se Mamadou Ba, é negro, e julgam que é estrangeiro".
Para Daniel Oliveira, "as palavras são importantes" e "carregam relações de poder e de exclusão", ao contrário do que é defendido por aqueles que criticam constantemente o "politicamente correto". O jornalista sublinha a ironia do facto de serem esses mesmos críticos do "politicamente correto" (que "dizem que já não se pode dizer nada" e que se está "a acabar com a liberdade de expressão") aqueles que ficaram mais indignados com as palavras de Mamadou Ba.
"A desadequação dos termos usados por Mamadou Ba serviu para o país fugir, mais uma vez, do debate sobre o racismo nacional. Mas as suas palavras tiveram a virtude de fazer estalar o verniz do muito falso tolerante", defendeu Daniel Oliveira.
"O que os incomoda é não estarem sozinhos a decidir o que se pode e o que não se pode dizer - e quem pode e não pode dizê-lo. O que nas suas bocas são só palavras, na boca do negro estrangeiro é um crime de lesa-pátria que merece despedimento e extradição", comentou. "Afinal, as palavras devem ser mesmo importantes. Afinal, também eles gostam do politicamente correto. Para os outros, claro."
Texto: Rita Carvalho Pereira