Na rua mais pequena do Porto, um espaço acanhado alberga um restaurante sem luxos, de caráter prático, ideal para o dia-a-dia pela relação preço-qualidade e com uma cozinha tradicional. Algo muito raro, hoje em dia, na baixa portuense.
A Adega do Olho já não é ali, recordando parte do letreiro colocado sobre a porta, fechada pela pressão turística, do tasco centenário da antiga travessa das Flores, hoje a rua mais pequena do Porto.
Com nome de mercador-diplomata: Afonso Martins Alho, o portuense que logrou entender-se com a coroa britânica, firmando o primeiro tratado comercial com o reino de sua Majestade.
Daí a expressão tripeira «fino como o Alho».
Corria o ano de 1353, governava por cá D. Afonso IV, e ao porto de Viana do Castelo começava a ser desembarcado bacalhau. Na viagem de regresso, o bojo dos navios ia repleto de pipas de vinho verde.
Na viela com uns 30 metros de extensão e estatuto de rua, ligando Flores a Mouzinho da Silveira, a bandeira da gastronomia tradicional continua erguida numa casa simples, proporcional à dimensão da ruela.
O Caseirinho é um espaço em plano inferior ao da rua; acanhado, onde se acomodam duas dezenas de comensais. Balcão do lado direito, logo a seguir, bem à vista, a cozinha onde Madalena Pinheiro comanda as operações. É assim há duas décadas, nesta casa que é um hino aos produtos e sabores transmontanos, em particular da região de Mirandela. Das alheiras à bôla e aos pastéis de carne de vitela, a marca da Terra Quente está lá.
Sem luxos, a sala estreita e com a parede do fundo decorada com pratos de porcelana, está normalmente repleta. Os pitéus diários e a relação preço-qualidade são justificado fator de atração na baixa portuense, onde hoje são raríssimos os restaurantes de matriz tradicional, que oferecem comida caseira, fugindo aos ditames da moda, e a preços em conta.
Para aconchegar o estômago nos dias frios, o cozido à portuguesa, por norma à quarta ou quinta-feira, é uma boa sugestão. Dose individual, servida a preceito, com carnes, frango incluído, e enchidos de boa qualidade, legumes e batata saborosos.
Regra geral, à segunda-feira, a vedeta é o cabrito assado; no dia seguinte, há rojões; na reta final da semana surgem como opções o lombo assado com alheira e os filetes de pescada acompanhados com arroz de grelos.
As sobremesas, todas de fabrico caseiro e na forma de bolos servidos à fatia, destacam-se pela variedade e aspeto tentador. Até o bolo-rei, é de confeção própria.
Vinho da casa, um tinto transmontano, de boa qualidade.
Serviço muito simpático neste restaurante simples e acanhado, ideal para o dia-a-dia, que mantém acesa a chama das casas tradicionais.
Um oásis na baixa portuense para refrescar memórias de uma cozinha despretensiosas. O Caseirinho, entre as ruas das Flores e de Mouzinho da Silveira, no Porto.
Onde fica:
Localização: Cais das Pedras 40, 4050-452 Porto
Telef.: 222 007 022