Sociedade

Canis a rebentar pelas costuras. Lei que proíbe abate ameaça saúde pública

Dogs are seen at a kennel at the NGO Sociedade Amiga dos Animais (Friend of Animals Society) in Caxias do Sul, southern Brazil May 19, 2010. The society has helped about 1,600 dogs and some 200 cats that were found abandoned by building them houses. Local residents call the complex "dog favelas." REUTERS/Bruno Domingos (BRAZIL - Tags: SOCIETY ANIMALS) - GM1E65K0RUM01 REUTERS

Seis meses depois de entrar em vigor a lei que que proíbe o abate de animais saudáveis nos canis municipais, a Associação Nacional de Médicos Veterinários dos Municípios garante à TSF que a maioria dos canis não tem espaço para mais cães e que a lista de espera de pedidos para a recolha de animais nas ruas não para de aumentar.

A lei que proíbe o abate de animais saudáveis nos canis municipais criou uma situação dramática e começa a pôr em causa a segurança e a saúde pública. A denúncia é feita à TSF pela Associação Nacional de Médicos Veterinários dos Municípios (ANMVM).

"Recolhe-se o essencial, aquelas animais que estão em situações de risco e o resto deixa-se estar. Muitas vezes as autoridades policiais ligam-me com um animal no meio da rua e eu digo para eles não o apanharem porque se o animal não tiver chip eles não sabem o que hão de fazer, eu não tenho onde o colocar e a polícia também não pode ficar com ele."

Só no canil de Ponte de Lima, por exemplo, há mais de 100 pedidos para recolha de animais.

O pior está para vir

A ANMVM estima que todos os anos sejam recolhidos das ruas 60 mil animais. Apenas 1/3 desses animais (cerca de 20 mil) consegue encontrar uma família de adoção. Antes de a nova lei entrar em vigor eram abatidos todos os anos cerca de 12 mil animais, mas como deixaram de ser abatidos, os canis rapidamente esgotam o espaço disponível para recolha e os animais acabam por ficar na rua.

A ANMVM admite que a proibição só trouxe problemas e avisa que o problema vai piorar. "A população é que vai pagar com estas situações, algumas cadelas já andarão por aí a ter ninhadas e cada vez há mais notícias de cães a rebanhos".

A Associação fala num beco sem saída e lembra que não basta proibir abates ou aumentar a lotação dos canis, é preciso fiscalizar e punir quem abandona animais na rua.

"O país é completamente negligente em relação aos animais. A maioria dos animais anda sem dono, sem chip, sem nada, não existe fiscalização, as pessoas não são punidas e agora resolveu-se colocar o ónus da responsabilidade de toda esta matéria sobre as autarquias. E as autarquias é que têm de resolver a questão, não se sabe como", reclama Ricardo Lobo.

Um desafio contra o abandono

A Associação Nacional de Municípios quer que o Governo lance uma campanha porta-a-porta para sensibilizar os cidadãos para a necessidade de cuidar dos animais de companhia.

Contactado pela TSF, o gabinete do ministro da Agricultura recorda que antes de a lei ter sido aprovada foram realizadas campanhas para adoção de animais, para apoiar à reconstrução de canis e para criar salas de esterilização.

Maria Miguel Cabo com Paula Dias