Sociedade

Alegre, enérgico e solidário. João Vasconcelos enchia uma sala com o "amor pela vida"

Lisboa, 11/04/2018 - Apresentação da Global Editors Network - GEN Summit 2018 - uma das principais conferências de media em Portugal, esta tarde, na Câmara Municipal de Lisboa. João Vasconcelos ( Global Imagens ) Global Imagens

Habituado a ver o copo meio cheio, João Vasconcelos contagiou os que o rodeavam com o seu espírito empreendedor. O ex-secretário de Estado da Indústria morreu esta segunda-feira aos 43 anos.

Inovador e solidário, João Vasconcelos conciliava o espírito empreendedor com a missão de ajudar quem mais precisa. O ex-secretário de Estado que morreu esta segunda-feira, aos 43 anos, na sequência de um ataque cardíaco era visto por muitos como um homem à frente do seu tempo, com um sentido de humor particular e uma energia contagiante.

"O que sinto hoje é que perdi um amigo. Foi uma pessoa com quem gostei muito de trabalhar, com quem gostei de conviver, porque tinha um sentido de humor fantástico, com uma atitude sempre positiva, com imensa energia e imensa garra e isso era muito contagiante", começa por contar Manuel Caldeira Cabral, ex-ministro da Economia.

João Vasconcelos era o tipo de pessoa que enche uma sala com a sua presença. Manuel Caldeira Cabral lembra que "saía das reuniões com ele sempre com vontade de fazer mais, de ir mais longe" e descreve-o como alguém com "um amor pela vida muito forte" que "ainda tinha muito para dar" ao país.

Deu a cara pela Web Summit e foi um dos responsáveis pela vinda da maior conferência da Europa sobre tecnologia para Portugal, o marco de um percurso ligado ao mundo das startups: foi diretor-executivo da Start Up Lisboa e vice-presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários, entre 1999 e 2005. Paddy Cosgrave, o co-fundador da Web Summit, lembra-o como um homem "apaixonado por startups e por Portugal"

A faceta humanitária de João Vasconcelos ficou visível em 2015 quando dinamizou uma campanha de solidariedade para ajudar os refugiados do Mediterrâneo, a Caravana Aylan Kurdi: uma recolha espontânea de alimentos, medicamentos, roupas e brinquedos, que depois foram entregues a refugiados na Sérvia e na Croácia.

No percurso político destacou-se o trabalho enquanto adjunto e assessor de José Sócrates, entre 2005 e 2011 e, mais recentemente, o trabalho no atual governo de António Costa com o cargo de secretário de Estado da Indústria, quando Manuel Caldeira Cabral ocupava a pasta da Economia. Saiu do governo em julho de 2017, depois de ter sido constituído arguido pelo Ministério Público, no processo que investiga as viagens ao Campeonato Europeu de Futebol da UEFA, pagas pela GALP.

Habituado a ver o copo meio cheio, João Vasconcelos deixou uma mensagem de despedida na altura em que saiu do Governo, no Facebook. A imagem que acompanhava o texto mostrava o ex-secretário de Estado, com um ar entusiasmado, de fato e luvas de boxe.

Nas frases que escolheu para se despedir, começava por dizer que acreditava que a atividade política "é uma das missões mais nobres a que o ser humano se pode dedicar, e que decidir e influenciar os destinos da nossa comunidade é a maior responsabilidade que alguém pode assumir".

Depois de 20 meses no Governo, João Vasconcelos lembrava os projetos nos quais interveio e as pessoas em quem foi tropeçando pelo caminho. Dizia-se "orgulhoso" por ter integrado desta forma "um Governo tão reformador quanto humano, na resposta que sabe dar às circunstâncias em que encontrou o país".

No final, explicava que era altura de dedicar tempo à família, mas mostrava-se disponível para servir "a comunidade e o país".

Atualmente, João Vasconcelos trabalhava junto de várias startups, tendo fundado o "Conselho", um think tank com 50 CEO portugueses da área da indústria e era chairman da Flash - Advanced Urban Mobility.